A necessidade de segurança viária, acredite se quiser, é anterior à própria criação dos carros. Não por uma questão de prevenção, mas sim de marcos. Ainda que se considere que o primeiro automóvel foi o Benz Patent Wagen, de 1886, o primeiro acidente teria acontecido em 1771, com o segundo protótipo do “fardier à vapeur”, um triciclo para quatro pessoas, com uma velocidade máxima de 3,6 km/h, criado pelo inventor francês Nicolas-Joseph Cugnot. Não existe confirmação oficial do fato, mas o veículo seria muito instável e teria capotado. Desconhece-se quem eram os ocupantes ou o quanto eles se machucaram. O primeiro acidente fatal, por sua vez, também foi anterior ao Patent Wagen. Aconteceu com a irlandesa Mary Ward, em 31 de agosto de 1869. Num passeio num carro a vapor com o marido e o sobrinho, numa curva acentuada da estrada, ela foi atirada para fora do veículo e uma das rodas passou por cima do seu pescoço, causando-lhe morte instantânea. De lá para cá, os veículos ficaram mais velozes e eficientes, mas também ganharam uma série de itens para que fossem mais seguros.
Se os modelos atuais são cada vez mais seguros, a crescente multiplicação de veículos também amplia a possibilidade de acidentes. Em alguns países, como o Brasil, o problema ganha proporções epidêmicas. Por isso vale conhecer quando e como foram criados alguns dos principais equipamentos de segurança viária, além de outras datas significativas na luta por veículos mais seguros:
1898 - Aparecem os primeiros faróis do mundo. Eles equipavam um modelo elétrico, o Columbia Electric Car, e eram opcionais. Ironia das ironias: os faróis eram de acetileno, cuja chama era resistente a chuva e a vento. Eles não podiam ser elétricos porque os filamentos não aguentavam os solavanco das péssimas vias e porque não havia um dínamo forte o suficiente para gerar a corrente necessária. Os primeiros faróis elétricos surgiriam apenas em 1908.
1903 - Criação de limpadores de para-brisas mecânicos, pela norte-americana Mary Anderson (a Bosch desenvolveu e patenteou a versão elétrica em 1926).
1904 - Apresentação dos pneus em borracha, uma invenção do britânico Dunlop. Os primeiros automóveis tinham rodas de madeira ou ferro, que, mais tarde, foram revestidas de borracha integral. Os pneus, além do conforto, proporcionaram maior segurança.
1906 - Os primeiros espelhos retrovisores. Dorothy Lewitt, uma piloto inglesa de carros de corrida, sugeriu num livro que os condutores de automóveis deviam levar um espelho para poderem ver o que se passava atrás do veículo.
1922 - Aparecimentos dos indicadores de mudança de direção. Com o aumento do trânsito, começou a haver necessidade de sinalizar as intenções de manobra dos veículos.
1951 - Surge o airbag, patenteado pelo alemão Walter Linderer.
1952 - Zonas de deformação programada do veículo, uma invenção do austro-húngaro Béla Barényi. Até então, a carroçaria dos automóveis era sólida e rígida. Por isso, em muitos acidentes, o veículo sofria danos mínimos, mas os ocupantes morriam devido ao impacto. A ideia de Barényi, que já salvou milhares de vidas, foi dividir a viatura em três partes: ao centro, uma gaiola indeformável, à frente e atrás, zonas deformáveis para absorver os choques.
1959 - O cinto de segurança de três pontos. Cintos de segurança já existiam antes, como no caso dos aviões, mas o moderno cinto de segurança de três pontos para automóveis é uma criação do sueco Nils Ivar Bohlin.
1966 - O ABS. O primeiro veículo com um sistema de antibloqueio das rodas foi o britânico Jensen FF. A Bosch criou e patenteou o sistema eletrônico em 1978. O primeiro carro com ABS de série foi o Ford Scorpio, em 1985.
1995 - A Bosch desenvolve o ESP. Um desdobramento lógico do ABS, o ESP é um sistema que mantém a estabilidade direcional de um veículo em situações limite. O Mercedes-Benz Classe S de 1995 foi o primeiro a utilizá-lo.
1997 - Euro NCAP. O European New Car Assessment Programme, a entidade que avalia os novos veículos comercializados na Europa em termos de segurança, não é uma invenção, mas a sua ação tem sido fundamental para o aumento da segurança viária na Europa, mas não só. Basta ver o caso do Latin NCAP, criado em 2010 para a América do Sul e Caribe, que adotou os mesmos critérios do organismo europeu. O Euro NCAP teve um nascimento difícil e enfrentou fortes resistências iniciais dos fabricantes de automóveis (mais segurança implica mais custos de produção). Mas, face ao inevitável, a oposição se converteu em adesão e, atualmente, obter o máximo de cinco estrelas nos testes de segurança é algo que as marcas exibem com orgulho. Os parâmetros e exigências aumentam de ano para ano e um automóvel que seria considerado seguro em 2000 hoje não passaria nos testes. Estes englobam quatro aspetos: segurança dos ocupantes adultos, das crianças e dos pedestres, além da oferta de dispositivos auxiliares de segurança.
O objetivo final de todas os sistemas de segurança automóvel é ter zero acidentes na estrada. Há quem veja a criação dos veículos autônomos como um passo importante nesse sentido, já que as máquinas errariam menos ao volante do que os humanos. Que pisam na bola, como se viu aqui, desde antes da própria invenção do automóvel...