Na Suécia, morreram 304 pessoas no trânsito em 2016. Ao longo do ano todo. Você pode dizer que a Suécia é um país pequeno, com pouco menos de 10 milhões de habitantes, mas ele é também o país com o trânsito mais seguro do mundo. O Brasil, por outro lado, tem um dos trânsitos mais perigosos do planeta. E matou, só entre o Natal e o Ano Novo, pelo menos 315 pessoas, mais gente do que a Suécia não conseguiu salvar em um ano inteiro. Apenas nas estradas, sem contar os mortos no trânsito urbano.
Dizemos pelo menos porque o levantamento realizado pela KBB esbarrou na falta de seriedade com a questão nos diversos Estados do país. Dos 26 Estados, incluindo o Distrito Federal, só conseguimos dados de 16 Estados. E parcialmente, com dados apenas de operações de Natal ou de Ano Novo em alguns casos. Mesmo assim, chegamos às 315 mortes reportadas acima, um número terrível, mas tristemente esperado. E ainda pior, segundo dados do ONSV (OBSERVATÓRIO Nacional de Segurança Viária), que aponta que o Brasil, todos os anos, tem 3.898,5 mortes em média no mês de dezembro. A média, obtida com dados de acidentes de 2010 a 2015, aponta que os demais meses apresentam média de 3.518,5 mortes. Em suma, dezembro tem um aumento de 10% no número de mortes no trânsito.
Se tivesse o mesmo índice de insegurança viária que o Brasil, a Suécia teria visto morrerem 1.861 de seus cidadãos ao longo de 2016. No extremo oposto, o Brasil, com níveis de segurança suecos, teria matado 6.386 pessoas ao longo de todo o ano de 2015, ano com as estatísticas mais recentes de mortes no trânsito. E, no final deste ano, proporcionalmente, 50 pessoas teriam perdido a vida. E 250 ainda estariam com suas famílias.
Estes cálculos se baseiam nos dados mais recentes que pudemos obter. A OMS (Organização Mundial da Saúde) trabalha com dados de 2013, quando a média de mortes no trânsito no Brasil era de 23,4 por 100 mil habitantes, enquanto a Suécia tinha uma média de 2,8 mortes por 100 mil habitantes. Quase dez vezes menor. Só que, considerando os dados de 2016, quando morreram as 304 pessoas no país escandinavo, que tem hoje uma população de 9,9 milhões de pessoas, a média sobe para 3,1 mortes para 100 mil habitantes em 2016. A do Brasil diminuiu, segundo os dados de 2015: foram 38.651 mortos para uma população de 206 milhões, o que dá 18,8 mortes no trânsito por 100 mil habitantes.
Quando lhe disserem que o trânsito brasileiro está mais seguro, que teve redução de 10% no número de mortes, lembre-se da distância que nos separa de um trânsito verdadeiramente civilizado. Da distância que nossos carros apresentam em relação aos vendidos na Europa. Da quantidade de maus motoristas que infestam nossas ruas. Do fato de ainda não termos um centro de crash tests independente em território nacional. Dos Estados que não divulgam estatísticas negativas em ano de eleição. Que não divulgam estatística nenhuma. E não se dê por satisfeito com melhorias aparentes: ainda há muito o que fazer para não ter medo de dirigir neste país.