A 10ª geração do Honda Civic não se limitou a resolver alguns dos pontos fracos do modelo anterior, como o tamanho do porta-malas. Ela também colocou os motores turbo na pauta do dia no Brasil. Pena que só na versão mais cara da linha, a Touring, mas já é um começo. E que belo começo, com um motor pequeno, mas potente, potencialmente econômico e divertido. Falamos em “potencialmente” porque ele pode acabar bebendo mais do que se espera de um modelo 1.5 se o motorista abusar do acelerador, mas nem seria preciso: basta abaixar o pedal um pouco mais do que o normal para que o Civic dê um salto à frente.
Você gostará do Civic Touring se…
Quem procura um carro completo, espaçoso e com muito do melhor da tecnologia, tanto de segurança quanto de conectividade e mecânica, deverá encontrar no Civic Touring uma ótima pedida. Especialmente se quiser um modelo mais compacto, amigo de vagas de garagem cada vez menores.
O perfil esportivo do modelo também atrairá quem gosta de carros de desempenho forte. Tudo no Civic convida a uma condução mais arrojada: da posição baixa de dirigir ao estilo fora do padrão para o segmento. Tudo isso sem abrir mão de espaço interno, bastante generoso tanto para ocupantes quanto para bagagens.
Talvez você não curta muito…
O modelo atual do Civic não tem vendido tão bem no Brasil quanto o mercado esperava. Em boa medida por conta do estilo, provavelmente ousado demais para o público a que ele se destina no Brasil. Nos EUA, onde é um modelo mais acessível, o Civic é sucesso absoluto de crítica e de público. Aqui, por conta do preço, ele é mais voltado a uma clientela conservadora e menos afeita a linhas esportivas.
Se você gostar da aparência do sedã, talvez se ressinta do espaço para a cabeça no banco traseiro. O teto baixo também dificulta a instalação de cadeirinhas infantis e o acesso de pessoas mais altas ou mais idosas aos bancos traseiros.
Outro aspecto de que você talvez não goste é da transmissão. No lugar de uma automática convencional, a Honda optou por colocar uma CVT. Ainda que ela não comprometa o desempenho do Civic com motor 1.5 turbo, ela tem um ruído muito característico. E há quem não goste dele.
O que tem de novo em 2017
Lançado em agosto de 2016, o Honda Civic ainda não passou por nenhuma mudança significativa. No caso da versão Touring, nem mesmo de preço, que continua exatamente o mesmo com que ele foi apresentado. Considerando que já faz mais de um ano, ele pode ser considerado um fenômeno neste quesito.
Dirigindo o Civic Touring
O Honda Civic ressaltou a veia esportiva da 8ª geração na 10ª. Sem os compromissos de espaço que o estilo futurista da fornada anterior impunha. O novo Civic tem 519 litros de porta malas em uma carroceria relativamente compacta: 4,64 m de comprimento, 1,80 m de largura, 1,43 m de altura e 2,70 m de entre-eixos. Mas isso impõe uma posição de dirigir baixa. Ideal para quem acha que carro é mais do que meio de transporte, mas tem muita gente que não gosta. O mesmo público que anda preferindo andar de crossovers e SUVs.
Uma vez sentado no banco, o motorista encontrará a melhor posição para guiar o Civic rapidamente. A versão Touring traz regulagem elétrica dos bancos e, como é padrão nas demais versões, regulagem de altura e de distância do volante e regulagem de altura dos cintos de segurança.
Pise no freio, solte o freio de mão elétrico, escolha entre D ou S, para colocar o Civic em movimento, e pode pisar no acelerador. Mas não muito. Não é preciso: o motor 1.5 coloca os 1.326 kg do sedã em movimento com uma facilidade impressionante. Exagere no estímulo e será preciso frear forte pouco adiante. Os freios, diga-se de passagem, são eficientíssimos.
A suspensão também é digna de nota. Costumeiramente criticada por acertos muito duros (e esportivos), a Honda acertou a mão com a do Civic. Ele passa por buracos e irregularidades sem transmitir solavancos ou socos secos à cabine. Nas curvas, a estabilidade não é comprometida pela suavidade do funcionamento de molas e amortecedores. Vale lembrar que o Civic tem suspensão independente nas quatro rodas.
Nos dias em que avaliamos o Honda, uma chuva fina e persistente deixava ruas e estradas um bocado menos previsíveis do que de costume. Especialmente as subidas íngremes. Foram ocasiões propícias para os controles de tração e de estabilidade mostrarem seu valor. O Civic não se fez de rogado em nenhuma situação, vencendo os desafios eventuais como se nada estivesse acontecendo.
Sacadas inteligentes
Um dos elementos mais interessantes do Civic Touring é a câmera instalada no retrovisor direito. Sempre que a seta para a direita é acionada, ela mostra o que está se passando do lado oposto ao que o motorista está. Isso praticamente elimina pontos cegos ou surpresas desagradáveis. Com o tempo, você deixa de olhar apenas para o retrovisor e passa a olhar também para a tela do sistema multimídia, que exibe as imagens da câmera.
Os faróis de LED do Touring são o que há de mais moderno em termos de iluminação. E eles realmente iluminam melhor e mais longe do que os convencionais, apesar do custo adicional que trazem em casos de batida.
Detalhes do Civic
Interior
Se o Civic não tem mais o painel em dois níveis, o Touring pelo menos traz a última tendência no segmento, que são os painéis digitais em TFT. Assim que o carro é ligado, por meio de um botão de partida, o painel acende e configura os instrumentos. Bancos, volante e detalhes no painel, portas e console são revestidos de couro. Todos os comandos estão à mão, com muitos deles no volante, mas com uma operação diferente da dos demais veículos. Para zerar o hodômetro, por exemplo, é preciso apertar um botão no painel. Mexer nos botões à esquerda do volante apenas interfere no sistema de som.
Ainda falando em acabamento, há apliques de alumínio escovado em detalhes do painel e nas maçanetas internas.
Exterior
O que mais chama a atenção no novo Civic são as lanternas, que parecem parênteses vermelhos. Uma linha de design que a Volvo vem tornando cada vez mais popular. O Civic tem uma traseira de queda suave, que faz com que ele lembre mais um cupê do que um sedã propriamente dito. Vincos bem pronunciados, tanto nas laterais quanto no capô, fazem do Civic um carro de caráter forte. Algo que tanto pode atrair compradores quanto afastá-los.
Um dos sinais mais fortes de que estamos diante de um Civic Touring, descontando os emblemas e a câmera sob o retrovisor direito, chamada de LaneWatch, são as maçanetas das portas cromadas. As rodas de aro 17, que poderiam ser um diferencial, curiosamente são iguais às das versões EX e EXL. A única a trazê-las levemente diferentes, escurecidas, é a versão Sport.
O Civic é oferecido em 5 cores: Branco Estelar (perolizada), Branco Tafetá (sólida),
Cinza Barium (metálica), Prata Platinum (metálica) e Preto Cristal (perolizada).
Equipamentos
Os itens de série que já mencionamos (faróis de LED, bancos e detalhes em couro, LaneWatch e comando elétrico dos bancos), mostram que o Civic Touring vem bem recheado. Mas não poderíamos deixar de citar os sensores crepuscular, de chuva e de estacionamento (dianteiro e traseiro), o teto solar elétrico, o sistema de abertura das portas e partida do carro sem chave e o retrovisor eletrocrômico. A central multimídia, da qual também já falamos, é compatível como Apple CarPlay e Android Auto.
Sob o capô
O motor turbinado do Civic é um 1.5 de 4 cilindros capaz de entregar 173 cv a 5.500 rpm e 22,4 kgfm desde os 1.700 rpm até 5.500 rpm. Mas você praticamente não notará que ele é sobrealimentado. Seu comportamento é progressivo, sem picos de entrega de potência ou coices inesperados, como os antigos motores turbinados costumavam distribuir assim que a ação da turbina se apresentava. O câmbio CVT casa bem com o 4-cilindros e ajuda a condução a ser absolutamente tranquila, mesmo quando se pisa fundo no acelerador. O fato de ele não chamar a atenção em nenhum momento é significativo. Normalmente, câmbio que chama a atenção é porque está incomodando.
Sobre o preço
Vendido a R$ 124.900, o modelo vem repleto de tecnologia, mas traz o mesmo preço de modelos maiores, como o Ford Fusion SEL EcoBoost. Que também vem com motor turbinado, o 2.0 de 248 cv, câmbio automático convencional de 6 marchas e um bocado a mais de espaço interno (2,85 m de entre-eixos) por apenas R$ 1.000 a mais: R$ 125.900. Mas, como já dissemos, pode ser que o comprador não tenha uma garagem suficientemente grande para um Fusion. Também pode ser que ele simplesmente prefira o estilo e a esportividade do Civic.
Bom seria se eles viessem em um pacote que não permitisse uma comparação tão desfavorável ao Honda em termos de valor.