Vida de avaliação de carros costuma ser meio monótona. Mesmo os carros mais interessantes em algum aspecto ficam devendo em algum. Bom de dirigir, mas apertado. Suspensão bacana, mas com nota baixa em crash-test. Acelera que é uma beleza, mas consome uma barbaridade. A maior parte dos lançamentos vive nesse mundo mediano ou pouca coisa acima da média. São raríssimos os casos em que um modelo agrada em cheio. E em vários quesitos, mesmo diante dos motoristas mais cri-cris que existem. O Volvo XC40 T5 R-Design se encaixa entre essas exceções.
Você gostará do Volvo XC40 T5 R-Design se…
Existem versões do XC40 com 190 cv, sempre com o motor Drive-E 2.0 turbo a gasolina, mas a T5 é a mais forte de todas. Ela coloca 252 cv sob o comando do pé direito do motorista. São 2 cv a menos do que XC60 R-Design que avaliamos recentemente oferece, mas o XC40 é quase 400 kg mais leve, o que torna sua direção muito mais ágil e divertida que a do irmão maior. Apesar do bom espaço interno, o modelo é relativamente compacto, com apenas 4,43 m, o que permite estacioná-lo facilmente. A proposta crossover também faz o XC40 circular com desenvoltura pelo piso lunar das ruas e estradas brasileiras, o que o faz parecer absolutamente em casa por aqui. Apesar de potente, o motor bebe relativamente pouco (8,8 km/l na cidade e 10,7 km/l na estrada). E, para completar, o XC40 tem um desenho muito elogiado por crítica e público.
Talvez você não curta muito…
Pode haver gente que precise de um porta-malas maior, mas seriam os únicos com algo a reclamar do XC40. Inclusive porque os 460 l do porta-malas são bastante razoáveis para um veículo deste segmento. O grande problema do XC40 está no preço, que não é dos mais acessíveis, mas, ainda assim, é bem mais baixo que o de um de seus principais concorrentes, o BMW X1 (R$ 191.950). Com uma oferta de equipamentos muito maior, além do bom desempenho. Mesmo no espaço de apontar falhas, o XC40 mostra suas qualidades. Em suma, ele falha em ter falhas fáceis de apontar.
O que tem de novo em 2018
O XC40 é um modelo inteiramente novo, lançado no Brasil em setembro de 2017. Ainda não houve tempo de mudanças para a linha 2019.
Dirigindo o XC40
Instale-se nos bancos com múltiplos ajustes elétricos com memória do XC40, inclusive o de apoio para as coxas (manual). Tudo está muito à mão e tem manuseio fácil e intuitivo, inclusive a boa central multimídia com tela sensível ao toque de 9 polegadas Sensus Connect. O que atrapalha não é descobrir como as coisas funcionam no carro, mas sim lidar com a quantidade de equipamentos que ele oferece. O XC40 T5 R-Design traz ACC (controlador de velocidade adaptativo), HDC (controle de frenagem em descida), LKA (sistema de alerta de mudança de faixa), Drive Mode (configurador de modo de direção) e o Pilot Assist, um sistema semi-autônomo de condução que consegue manter o carro nas curvas em pistas bem sinalizadas a até 130 km/h. Um monte de coisas que só o convívio com o carro permite descobrir adequadamente. Ou um intensivão com o manual do proprietário.
Aperte o botão de partida e o painel digital de 12,3 polegadas revela "os instrumentos", com um grafismo tão realista que a impressão que se tem é de estar em um modelo com mostradores analógicos. No trânsito, o sistema stop-start ajuda a aliviar a sede do motor e faz com que a tradicional ação de desligar o carro ao estacionar desapareça. Isso porque o motor já está desligado quando se aperta o botão ou se seleciona a posição P do câmbio. Trata-se apenas de confirmar que ele deve continuar em descanso.
Já mencionamos que o XC40 se sente em casa em nosso asfalto ruim, mas vale descrever como ele se comporta. Alguns poucos carros conseguem um compromisso legal entre conforto e robustez e o XC40 certamente é um deles. O carro tem um rodar confortável, que absorve bem as batidas causadas por buracos, valetas e companhia, mas é firme em curvas mais fortes, mesmo aquelas que sua altura em relação ao solo não encoraja forçar muito o acelerador. O XC40 não é apenas um dos carros mais seguros do mundo em caso de acidente, de acordo com o Euro NCAP. Ele também transmite segurança a quem dirige. O motorista sabe que o crossover atenderá a seus comandos e desejos com bastante disposição.
Se for preciso frear, o XC40 para em distâncias curtas, com bastante eficiência. Mesmo que o motorista esteja distraído. O sistema City Safety impede batidas na traseira de outros carros. Quando é o motorista que faz o serviço, o pedal do freio se mostra com boa sensibilidade, sem ser preciso exagerar na pisada para que o carro freie. Ele também não funciona como um botão de liga e desliga, um problema em muitos automóveis. Permite modular bem a força aplicada.
O volante do XC40 é firme e preciso. Ele tem um "peso" que era comum em modelos da BMW e Mercedes-Benz do final dos anos 1990 e início dos 2000. Algo que pode parecer depreciativo, mas vale lembrar que estes carros são até hoje exaltados pela boa dinâmica e por serem boas máquinas de dirigir. Esse peso dá ao carro uma sensação boa de solidez.
Não é só o motorista que fica feliz dentro de um XC40. Os passageiros também dispõem de espaço suficiente para as pernas e ombros. Dá pra levar três adultos com relativo conforto no banco de trás. O que atrapalha quem viaja no meio é um ressalto no assoalho, já eliminado em muitos veículos. Mas dificilmente o XC40 levará três adultos no banco de trás: o carro é perfeito para famílias. Com crianças ou adolescentes para carregar. Adolescentes que provavelmente terão seus carros ao completar 18 anos, época em que já preferirão ficar com os amigos do que com os "velhos".
Sacadas inteligentes
O que o XC40 traz de melhor é invisível aos olhos da maioria. Trata-se da plataforma CMA (Compact Modular Architecture). Ele é o primeiro modelo a utilizá-la. Desde sua apresentação, a plataforma já apareceu também no Geely Borui GE. Ela é leve, modular e permitirá a criação de uma série de novos modelos, como a próxima geração do V40, do S40 e os modelos da Lynk & CO. Um belo modo de a Volvo ganhar escala e mais relevância no mundo automotivo.
Detalhes do Volvo XC40
Interior
Os bancos de couro e o desenho sóbrio, simples e funcional dos modelos da Volvo tornam o interior do XC40 digno de nota. Ele foge da mesmice que se vê em diversas marcas e tem personalidade sem precisar recorrer a malabarismos. É acolhedor, de bom gosto e um bocado elegante. É o lugar ideal para o sistema de som de alta fidelidade Harman Kardon, de 600 W, com 13 alto-falantes com subwoofer. Dá gosto ouvir aquela música que você cantarolou o dia inteiro no XC40. Com a ajuda do Spotify e do Android Auto ou do Apple Carplay, softwares com os quais o XC40 é totalmente compatível.
Exterior
Outro ponto em que a Volvo mostra personalidade e bom gosto é no desenho do XC40. Ainda que o carro siga o "family face", o XC40 dificilmente será confundido com um XC60 ou com o XC90. Não só por uma questão de porte, mas também de estilo. As rodas ficam muito bem em suas respectivas caixas, sem parecer que são exageradas ou pequenas demais, o que acaba com o "stance" de muitos veículos atuais. E há até elementos compartilhados entre os crossovers da marca, como os retrovisores, que são os mesmos do XC60. Descobrimos isso por uma fatalidade: na rua em que um motorista espaçoso nos deu uma bela fechada. Uma árvore que invade essa rua, e pela qual sempre passamos incólumes, com sedãs e peruas, fez questão de beijar o retrovisor direito do XC40. Por sorte, o retrovisor preferiu desmontar a quebrar inteiramente, o que nos permitiu colocar as peças de volta no lugar e continuar a usar o carro normalmente, apesar de o pisca de LED ter dado adeus à vida, entre outros danos. Pois é: o XC40 é muito alto e largo. E tem gente que dirige como se estivesse sozinha na rua.
Equipamentos
Além dos itens que já citamos, o XC40 T5 R-Design vem com teto solar elétrico, sistema de navegação Sensus Navigation Pro, de leitura de placas de velocidade (RCI), bancos de couro, ar-condicionado bizona "multiativo" (contra poluentes), porta-luvas refrigerado, carregador de celular por indução, chave presencial, sensor crepuscular, de chuva e de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera de ré, assistente de partida em rampa, Volvo On Call, faróis de LED com sistema anti-ofuscante, rodas de liga leve de aro 20 e acabamento R-Design.
Sob o capô
Todos os modelos da Volvo são hoje equipados com os motores Drive-E. Até o lançamento do 1.5 de 3 cilindros, todos eram motores de 4 cilindros, 2 litros de cilindrada e potências variadas pelo uso do turbocompressor. O do XC40 não é exceção: a mesma unidade gera 190 cv ou 252 cv. No caso específico do T5, são 252 cv a 5.500 rpm e 35,7 kgfm a 1.500 rpm, com direito a comando de válvulas variável e injeção direta de combustível.
Sobre o preço
O fato de haver um XC40 com motor 1.5 de 3 cilindros na Europa nos faz torcer para que essa versão seja vendida também no Brasil. A T5 R-Design é coisa de R$ 214.950, o que restringe demais o alcance de um carro tão merecedor de elogios. Pode ser que o motor 1.5, mesmo turbinado, não tenha um comportamento tão esperto, especialmente em um veículo com 1.733 kg em sua versão mais equipada, mas esse é o tipo de carro que deveria ser mais popular em um país como o Brasil. Não só pela segurança que oferece (e que faz falta em um país com tantas mortes no trânsito), mas também porque quem gosta de carro merece a chance de ter um que vale tanto a pena. Se tiver a grana necessária, coloque o XC40 em sua lista de compras. Nem que seja apenas para conhecê-lo melhor.
Ficha técnica
Modelo | Volvo XC40 T5 R-Design |
Motor | 2.0, 16V, dianteiro, transversal, turbocomprimido e com injeção direta de combustível |
Potência | 252 cv a 5.500 rpm |
Torque | 35,7 kgfm a 1.500 rpm |
Câmbio | Automático, 8 marchas |
Tração | Integral |
Freios (d/t) | Discos ventilados / Discos sólidos |
Suspensão (d/t) | Independente, do tipo McPherson / Independente, do tipo multibraço |
Dimensões (C/L/A) | 4,43 m / 1,86 m / 1,65 m |
Entre-eixos | 2,70 m |
Peso | 1.733 kg |
Porta-malas | 460 litros |