Com carros cada vez mais tecnológicos e cheios de assistências, facilidades e babás eletrônicas, muita gente se volta a veículos clássicos em busca de algo que eles chamam de “organicidade”. Em outras palavras, de uma ligação mais mecânica (e direta) com os veículos, como a que o primeiro Fiat Uno oferecia. Para eles, o Kwid provavelmente seria uma opção e tanto. Poucos carros são tão “orgânicos” quanto o subcompacto da Renault, algo que se nota bem na versão intermediária, a Zen.
Você gostará do Renault Kwid Zen se…
Quem procura um modelo compacto, leve, de bom desempenho e econômico estará em casa dentro de um Kwid, que ainda tem outros trunfos a seu favor. A começar pela boa altura em relação ao solo e os balanços reduzidos. Traduzindo, este aventureiro não pega em lombadas e valetas e passa por onde muitos crossovers de verdade não se atrevem a enfiar o nariz. O Kwid também vem fazendo sucesso em vendas, tendo sido o segundo modelo mais vendido do Brasil em setembro. E isso não se deve a nenhuma de suas qualidades, ainda desconhecidas do grande público, mas sim a um preço baixo e a um estilo que agradou em cheio o público brasileiro.
Talvez você não curta muito…
O lado orgânico que muitos motoristas buscam é justamente o que pode fazer os demais evitarem o Kwid. Ele é simples, com plásticos duros que se arranham facilmente, tem pouco espaço interno, devido às dimensões reduzidas, e o modelo indiano recebeu apenas 1 estrela em testes no Global NCAP (de um máximo de 5). Após três rodadas de reforços na carroceria, como se pode ver no vídeo abaixo:
O modelo brasileiro teria recebido diversos reforços e vem de série com 4 airbags: os frontais, obrigatórios por lei, e os laterais. A questão é que ele ainda não foi submetido aos testes do Latin NCAP. Fica a torcida para que o Kwid brasileiro tenha desempenho mais adequado em segurança. Comprovadamente.
O que tem de novo em 2017
O Kwid é inteiro novo, tendo sido apresentado em agosto. Tão novo que ainda há gente esperando para poder comprar o seu, algo que um reparo nos freios traseiros, efetuado antes mesmo de o modelo ser entregue a seus novos donos, acabou atrasando ainda mais.
Dirigindo o Renault Kwid Zen
O Kwid não oferece muitos tipos de regulagem. Só o de altura dos cintos e de altura, distância e inclinação do banco do motorista (os de praxe). Vale ressaltar que os bancos dianteiros podem ser jogados bem para trás, favorecendo passageiros altos (ainda que não sobre muito espaço no de trás). Logo ao entrar nele, a sensação é de que se fica próximo demais da coluna B, mas isso é algo que se dissipa com pouco tempo de convívio.
A coluna de direção é fixa, mas em uma posição que dispensa a necessidade de regulagem. O volante não encobre o painel e não cansa os braços em viagens mais longas. Os retrovisores externos, apesar de manuais, não oferecem grande dificuldade de ajuste precisamente porque o Kwid não é um carro largo. Com isso, o comando do espelho do lado direito fica relativamente próximo.
Não é preciso pisar em freio ou acelerador para dar partida no subcompacto aventureiro. Essa medida de segurança, mais uma prova de que ele é "orgânico", não está na lista do Kwid, ainda que ele traga a trava do volante, algo que muitos modelos mais recentes já dispensaram. Preguiçoso em dias mais frios, o carrinho tem sistema de partida a frio com o conhecido tanquinho de gasolina. Ainda que já pudesse ter sido dispensado, tanto do Kwid quanto dos demais Renault, ele pelo menos está em posição acessível, que não exige muito esforço para abrir, como acontece no Fluence, por exemplo.
Depois de acordado, o motorzinho 1.0 de 3 cilindros do Kwid mostra uma vivacidade que poucos concorrentes têm. E não por conta de o motor ser um primor de modernidade, mas sim pelo baixo peso do veículo como um todo. Na versão Zen, o Kwid pesa apenas 779 kg.
A princípio, o pedal de embreagem parece ranger sempre que é acionado. Nada no pedal, mas sim no acoplamento do câmbio com o motor. Talvez estejamos acostumados a embreagens de acionamento hidráulico (a do Kwid é por cabo), mas o fato é que há ali uma aspereza. Pode ser coisa de carro “orgânico”, já que outras unidades do Kwid que avaliamos apresentam a mesma característica.
Esqueça aquela história dos 1.0 que não ligam para os comandos do acelerador. Basta chamar o Kwid no pedal da direita que ele atende com disposição. Com a vantagem de não mascarar demais o ronco gostoso de seu 3-cilindros. Para quem gosta de comportamento esportivo, essa agilidade é muito bem-vinda. E o carrinho não nega fogo nem mesmo na estrada, pelo menos apenas com o motorista.
Apesar de alto, o Kwid não decepciona nas curvas. E até estimula o motorista a ir um pouco mais rápido nelas pela boa estabilidade, ainda que não tenhamos forçado o carrinho a nada extraordinário. Não é a proposta dele. Os freios, por outro lado, são pouco assistidos e exigem um bocado de força para responder devidamente. É a vida como ela é, mas essa vida crua pode assustar quem se acostumou a menos esforço para parar.
Sacadas inteligentes
A Renault acertou a mão na ergonomia do Kwid. Os comandos dos vidros elétricos (apenas dianteiros) são no painel de instrumentos, mas eles estão facilmente ao alcance das mãos. Nada no console central ou entre os bancos, como a própria Renault já arriscou fazer em modelos anteriores. Os comandos do rádio, instalado em posição acima dos botões dos vidros, seguem a mesma receita. Basta tirar as mãos do volante para poder ajustar o som ou a abertura dos vidros. Outra grande sacada da Renault foi ter feito o Kwid nascer como um aventureiro. Além de essa ser uma configuração visual de sucesso no Brasil, ela também o deixa em casa nas ruas e estradas lunares do país.
Detalhes do Kwid Zen
Interior
Se essa parte de comandos é bem resolvida, há pelo menos um detalhe que no Kwid que preocupa. O cinto central do banco traseiro, abdominal, passa necessariamente por dentro dos outros dois, laterais. Para explicar melhor, a alça sai "de dentro" do cinto do lado esquerdo e se une à fivela que fica do lado "de dentro" do cinto direito. Alguém vai acabar colocando a mão no quadril de alguém, constrangida ou oportunisticamente.
Isso não é exclusividade do Kwid, mas a Renault diz que "não há nada de errado com os cintos de segurança traseiros do Kwid" e que "o posicionamento foi definido de forma a proporcionar a melhor ergonomia para cada ocupante". Ok...
Os revestimentos do modelo são simples, ainda que as texturas usadas passem a impressão de que os plásticos são de cores diferentes. Os dois únicos alto-falantes do modelo ficam nas bases das colunas A, sobre o painel, e não há espaço para eles nas portas. Os bancos, com costura vermelha e com encosto inteiriço, parecem muito menos confortáveis do que efetivamente são.
Exterior
Bem na linha aventureira, o Kwid traz proteções plásticas nos para-lamas, borrachões nas portas e plástico aparente nos para-choques. Visto por trás, ele parece muito mais estreito do que os demais veículos nas ruas, mas só diante deste contexto. Seus futuros donos vão adorar o fato de poder abrir as portas em vagas apertadas sem muita dificuldade. E também na bela figura que o carrinho faz diante de outros modelos. A Renault foi bastante feliz no desenho do Kwid, ainda mais em um mercado como o brasileiro, que valoriza tanto os crossovers, SUVs e aspirantes às duas classificações.
Equipamentos
O Kwid Zen vem de série com direção eletricamente assistida, ar-condicionado, travas e vidros dianteiros elétricos, limpador e desembaçador da vigia e rádio com Bluetooth e entradas USB e AUX.
Sob o capô
O motor 1.0 de 3 cilindros do Kwid é uma versão mais simples (e mais barata) do 1.0 SCe usado por Sandero e Logan. Saem os variadores de fase dos comandos de admissão e de exaustão, mas ele conserva as 12 válvulas (4 por cilindro) e o duplo comando no cabeçote (DOHC). Com bloco de alumínio, ele é leve, o que o ajuda a manter o peso baixo e a economia em alta.
A falta dos variadores cobra seu preço em potência e torque: São 70/66 cv (E/G) a 5.500 rpm e 9,8/9,4 kgfm a 4.250 rpm. Por sorte, o Kwid pesa pouco e não sofre com os 12 cv e 0,7 kgfm de desvantagem em relação aos irmão maiores. Talvez o novo câmbio manual SG1, de 5 marchas e mais leve, ajude o modelo nesta tarefa. Por outro lado, o Kwid apresenta números de consumo de encher os olhos dos sovinas (e de quem só quer gastar menos nos postos). Em ciclo urbano, faz o litro de gasolina render 14,9 km e o de etanol o carregar por 10,3 km. No rodoviário, os números melhoram para, respectivamente, 15,6 km/l e 10,8 km/l. Tudo segundo o Conpet. Em nossa avaliação, pisando bem, ele fez 9,5 km/l eminentemente na cidade.
Sobre o preço
O Kwid começa nos R$ 29.990 na versão Life e não vem com direção elétrica, vidros elétricos ou ar-condicionado. Só com os airbags laterais. A Zen, na verdade, é chamada de Zen+Rádio, já que inclui o sistema de som que, no futuro, deverá se tornar opcional. O preço da versão Zen pura ainda é um mistério. O Zen+Rádio pode ser reservado por R$ 35.990. Sim, reservado: segundo o site da Renault, o modelo, por ora, só pode ser reservado, com entregas prometidas apenas para janeiro de 2018. A não ser que você queira um Kwid Zen Prata Etoile, exatamente como o que avaliamos, disponível para dezembro deste ano, mas que pode ser entregue em um prazo mais curto, de cerca de 10 dias, por conta de essa ser a versão mais pedida e a cor mais procurada. A impressão que essa informação nos deu é que houve uma encomenda grande desta versão e cor do carro, provavelmente por alguma frotista que desistiu posteriormente do negócio. E que isso abriu espaço na fila. Como os carros já estão sendo produzidos, a fila por eles é mais curta.
Em consulta a algumas concessionárias da marca, elas nos confirmaram que o processo de venda ainda é apenas por reserva. E que a previsão de entrega é só para dezembro ou, como uma concessionária disse a nossa equipe de pesquisa, de "dezembro a março". Como consta dos novos termos de reserva no site da Renault, atualizados nesta última quarta (18), que podem ser vistos acima e em nossa galeria de fotos.
A única "vantagem" oferecida pela nova reserva é a garantia é de 3 anos. Na pré-reserva, a garantia era de 5 anos para quem financiasse o carro com o Banco Renault, a primeira revisão era gratuita e a entrega era prioritária.
Seja como for, o valor de R$ 35.990 para um veículo com todo o conteúdo que já descrevemos é um dos maiores fatores de sucesso do Kwid. O VW up! na versão take, só com limpador e desembaçador da vigia, começa nos R$ 37.990. O Fiat Mobi Easy, sem nada disso, tem preço de tabela de R$ 34.210, segundo o site da Fiat, mas a marca reduziu seu preço para R$ 29.990 em sua mais nova “promoção”. A versão do Mobi que deveria concorrer diretamente com a Zen, chamada Like, também teve o preço reduzido, mas para R$ 36.990. Ou R$ 1.000 mais cara, o que mostra a dificuldade da Fiat em acompanhar os preços do modelo da Renault. Não por acaso: 40% das peças do Kwid são importadas da Índia, o que o ajuda bastante a ter o preço competitivo que apresenta.
Um exemplo disso são seus pneus. Apesar de o modelo de nossa avaliação ter vindo com pneus Continental ContiEcoContact 3, na medida 165/70 R14, os modelos entregues aos consumidores comuns são da marca JK Tyre, indiana. No Brasil, o valor mais baixo pelo pneu é de R$ 199 no site Pneu Free. O Continental, usado nos modelos cedidos à imprensa, e submetidos a testes de aceleração e frenagem, custa no mínimo R$ 319,90, segundo o Buscapé.
Economias à parte, o Kwid é um carrinho que já começou bem no mercado. Ele atingiu o posto de 2º mais vendido logo em seu 2º mês de comercialização. E só não vendeu mais na parcial de outubro por conta de problemas em seus freios traseiros, que atrasaram a entrega de muitas unidades. Se mantiver o ritmo (e os preços), é possível que ele dê à Renault um papel de protagonismo no mercado brasileiro. E a muitos compradores um meio de transporte honesto, econômico e "orgânico".
FICHA TÉCNICA
Modelo | Renault Kwid 1.0 SCe Zen |
Motor | 1.0, 12V, 3 cilindros, dianteiro, transversal |
Potência | E: 70 cv a 5.500 rpm | G: 66 cv a 5.500 rpm |
Torque | E: 9,8 kgfm a 4.250 rpm | G: 19,4 kgfm a 4.250 rpm |
Câmbio | Manual, 5 marchas |
Tração | Dianteira |
Freios (d/t) | Discos/tambor |
Suspensão (d/t) | McPherson/eixo de torção |
Dimensões (C/L/A) | 3,68 m / 1,58 m / 1,47 m |
Entre-eixos | 2,42 m |
Peso | 779 kg |
Porta-malas | 290 litros |