O câmbio manual está entrando em extinção. Alguns segmentos nem o trazem mais como opção. No caso dos sedãs médios, sua aposentadoria só não estava consumada por conta de três modelos, entre eles o Honda Civic, mas as coisas mudaram em outubro. Falaremos disso mais adiante. Em sua décima geração, a versão de entrada do sedã, a Sport, vem equipada com um manual de 6 marchas e, como era de esperar, é a opção menos vendida da gama, segundo dados da Jato Dynamics.
Mas se mercadologicamente não faz muito sentido escolher esta versão do Civic, o lado emocional, sobretudo de quem é entusiasta de carros, certamente ficará "balançado" ao realizar um test-drive com o modelo. O Civic manual é, atualmente, um dos carros mais divertidos do mercado, especialmente abaixo do R$ 100.000 (ele parte de R$ 87.900). Seu conjunto muito bem acertado dinamicamente e fôlego surpreendente do motor o tornam um veículo prazeroso, o que só é potencializado quando se tem a oportunidade de comandá-lo por meio de um câmbio com trambulador justo e preciso, tal qual o dele.
De quebra, a versão Sport já vem bem equipada de série e só fica atrás da opção de entrada do Chevrolet Cruze no quesito equipamentos de maior valor agregado. Ou seja, se você não priorizar liquidez na hora de vender o carro, o Civic manual pode merecer um minuto da sua atenção, pelo menos para ler esta avaliação até o final!
Você gostará do Honda Civic Sport manual se...
Se você ama dirigir, ou seja, se coloca o prazer ao volante como prioridade na hora de escolher um carro novo, o Civic Sport manual dificilmente vai te decepcionar. A geração atual do sedã é construída com materiais mais nobres (59% de aços de alta resistência e 14% de aços de ultra-alta resistência) que ajudam a controlar melhor a carroceria do modelo em curvas e o motor 2.0 flex, embora seja um velho conhecido do sedã, está com a calibração mais potente de sua história (155 cv, a etanol), entregando desempenho animador. A posição de dirigir do Civic é ideal para quem gosta de uma configuração mais esportiva, com volante mais próximo do corpo e manopla de câmbio à mão.
Além do fator emocional, esta geração do Civic está generosa na oferta de espaço na cabine e no porta-malas. O visual (que até pode dividir opiniões) pode ser outro argumento para atrair um público mais antenado às tendências de design da indústria.
Talvez você não curta muito...
O design do Civic é o ponto mais controverso do sedã. As linhas fluidas, o caimento ao estilo fastback da coluna C e as lanternas em formato de "bumerangue" podem ser ousados demais para um segmento cujo público é, de maneira geral, mais conservador neste aspecto. Os mais ligados à conectividade também vão sentir falta de uma central multimídia mais moderna, compatível com smartphones.
O que tem de novo em 2017
Quando a Honda lançou o Civic em setembro do ano passado, a novidade já chegou às lojas como modelo 2017. A gama do sedã é composta por quatro versões (Sport, EX, EXL e Touring), variando de R$ 87.900 a R$ 124.900. A versão topo de linha, Touring, é equipada com o inédito motor 1.5 turbo de 173 cv, acoplado ao câmbio automático do tipo CVT. Todas as outras são impulsionadas pelo propulsor 2.0 flex de 155 cv, que também trabalha com o câmbio CVT (somente a versão Sport tem a opção manual).
Dirigindo o Honda Civic Sport manual
Como falamos acima, a décima geração do Honda está com uma construção mais nobre do que a anterior. A adoção de materiais mais leves e resistentes resultou num incremento de 25,8% de rigidez torcional do chassi e um regime de até 30 kg, dependendo da versão do carro. Buchas de suspensão hidráulicas, suporte de alumínio dos amortecedores, barras estabilizadoras mais espessas (lembrando que a suspensão traseira do sedã é independente) e direção elétrica progressiva, com respostas rápidas, completam essa receita que transforma o Civic "X" num modelo apuradíssimo para guiar de maneira um pouco mais arisca.
Todas as versões do carro ainda contam com a tecnologia de vetorização de torque (um recurso adicional do controle eletrônico de estabilidade), que aumenta ainda mais a capacidade do Civic para fazer curvas. Ele consiste em leves "pinçadas" nos discos dos freios das rodas internas da curva, um estágio anterior ao da correção da trajetória, que funciona mais como um assistente de contorno (para torná-lo mais preciso) do que um recurso de segurança. Com todas essas credenciais, qualquer rodovia sinuosa ganha um significado muito mais agradável ao volante do sedã.
Ao sentar no banco do motorista do Civic, a altura mais baixa do assento não implica em prejuízo à visibilidade, devido à boa área envidraçada (mas há boa amplitude de altura para quem prefere uma posição mais elevada para guiar). A distância dos pedais é correta para que as pernas fiquem levemente flexionadas, enquanto o ajuste de profundidade do volante permite que o motorista o traga mais perto do peito a ponto de manuseá-lo com os cotovelos flexionados, sem desencostar os ombros do banco. Esta posição deixa o condutor numa postura mais esportiva e prazerosa, com alcance total da manopla de câmbio.
O câmbio, aliás, é responsável por grande parte do prazer ao dirigir o Civic. Com engates justos e precisos, o trambulador instiga o motorista a trabalhar com o câmbio, ainda que o motor 2.0 tenha elasticidade suficiente para enfrentar situações urbanas sem requisitar muitas reduções de marcha (as relações são mais longas). Falando no motor, são 155 cv e 19,5 kgfm de torque à disposição do pé direito. De acordo com a ficha técnica do modelo, 40% do torque é entregue até as 3.000 rpm. Embora pareça pouco, isso é o suficiente para embalar o sedã sem muito esforço, permitindo que o condutor explore o propulsor em rotações mais baixas. Mas é a partir das 4.700 rpm (pico de torque) que o carro ganha verdadeiro ímpulso para acelerar até as distantes 6.300 rotações, quando a potência máxima é atingida.
Em rodovias, o Civic trafega a 120 km/h tranquilamente um pouco abaixo das 3.000 rpm, graças à sexta marcha overdrive. Além de diminuir o nível de ruído interno, a marcha adicional contribui para conter o consumo. Segundo o Inmetro, o Civic roda 7,1 km/l na cidade e 9,2 km/l em rodovias, abastecido com etanol (a gasolina estes números são 10,2 km/l e 13,4 km/l, respectivamente). Outro recurso em prol de maior economia de combustível é o botão "Econ" no console. A função basicamente atenua a sensibilidade do acelerador, para que o motor tenha respostas mais parcimoniosas.
Durante nossa avaliação de mais de 300 km, percebemos que o modo "Econ" pode melhorar em cerca de 1 km/l a média de consumo. Em trajetos mistos entre cidade e estrada, anotamos médias de 8,2 km/l, com a função desligada, e 9,5 km/l com ele ativado (ambas situações com etanol).
Sacadas inteligentes
Desde a versão de entrada, a Honda equipa o Civic com freio de estacionamento eletrônico. Isto permitiu que eles incluíssem a função brake hold ao carro, que aciona o freio de estacionamento automaticamente quando o veículo para. A solução serve para aliviar o pé direito no pedal central no trânsito, por exemplo. Assim que o motorista pisa no acelerador, o freio é desacoplado.
A já citada vetorização de torque é outra sacada inteligente do Civic, já que não é todo modelo que possui controle eletrônico de estabilidade (ESC) que oferece esta vantagem.
Detalhes do Honda Civic Sport manual
Interior
A cabine do Civic segue o padrão sóbrio da Honda. Embora as peças sejam bem encaixadas e haja materais de toque mais macio no painel, o design é retilíneo e de pouca personalidade. A adoção de um botão no lugar da alavanca convencional do freio de mão permitiu um melhor aproveitamento do espaço do console central. A consequência é um baú generoso entre os bancos, com um apoio de braço deslocável para cobrir os objetos armazenados ali. O local também abriga dois porta-copos (um deles é removível). Em frente à manopla do câmbio há um espaço ideal para o smartphone, devido à posição favorável para consulta do GPS, por exemplo. O acesso da entrada USB e da tomada 12V pode ser um pouco inconveniente, mas ao menos ajuda a esconder o cabo.
A central multimídia de 5 polegadas é bastante simples e o visual do software é um tanto ultrapassado. A tela não é sensível ao toque e a conectividade com celular é feita por meio do Blueetoth ou cabo USB (não há Apple CarPlay nem Android Auto), mas a navegação é bastante intuitiva.
Quem viajar no banco de trás não terá muito do que reclamar. Com distância entre-eixos de 2,70 m (a mesma de Toyota Corolla e Chevrolet Cruze), o espaço é amplo para pernas e cabeça, mesmo para quem for mais alto. Três pessoas viajam com conforto por ali (e há cintos de três pontos para todos). O porta-malas tem volume para 525 litros (é o maior entre seus principais concorrentes).
Exterior
O design do Civic pode até ser controverso, mas a silhueta ao estilo fastback é uma tendência global entre os carros de três volumes. O conjunto óptico e dianteira afilados e as lanternas de LED num formato de "bumerangue" marcam um estilo mais esportivo e ao mesmo tempo um tanto futurista do sedã. A versão Sport é caracterizada pela barra frontal e rodas de liga leve de aro 17 pintados de preto.
Equipamentos
A versão Sport já vem bem equipada de série, com destaque para os 6 airbags, controle eletrônico de estabilidade (ESC), ar-condicionado digital, trio elétrico, faróis de neblina, freio de estacionamento eletrônico, brake hold, vetorização de torque, direção elétrica, luzes diurnas de LED, lanternas de LED, freio a disco nas quatro rodas, controle de cruzeiro, câmera de ré, central multimídia de 5 polegadas, bancos bipartidos e entrada USB.
Sob o capô
O motor 2.0 flex é um velho conhecido do Civic, de gerações passadas. Para a atual, os engenheiros da Honda aprimoraram uma série de peças internas com foco na diminuição de fricção. São quatro cilindros em linha, com quatro válvulas cada (16 no total) e um duplo comando variável. Ele rende 155 cv a 6.300 rpm com etanol (150 cv a gasolina) e 19,5 kgfm de torque a 4.800 rpm (19,3 kgfm a gasolina). Nesta versão avaliada, ele é acoplado ao câmbio manual de 6 marchas. A tração é dianteira.
Sobre o preço
Partindo de R$ 87.900, a versão de entrada do Civic estava um patamar acima em preço se comparada às outras opções de sedãs médios manuais do mercado (Citroën C4 Lounge e Volkswagen Jetta). Como elas saíram de linha em outubro, ele agora é a única opção com esse câmbio no segmento. E acaba sendo a mais barata, considerando que C4 Lounge parte de R$ 90.290, já automátivo, e Toyota Corolla e Chevrolet Cruze começam em cerca de R$ 92.000. O problema é que essa versão manual corresponde a menos de 3% do mix de vendas da gama do Civic (pouco mais de 550 pessoas optaram por ela até outubro). Ou seja, revendê-lo será certamente um desafio, que exigirá paciência do proprietário. Ao menos o baixíssimo volume de ofertas no mercado faz com que a desvalorização da versão Sport seja parecida entre os dois câmbios: enquanto o manual perdeu 10,2% de seu valor em 14 meses, o CVT desvalorizou 9,8% no mesmo período.
Ficha técnica
Modelo | Honda Civic Sport |
Motor | 2.0, 16V, 4 cilindros, dianteiro, transversal |
Potência | E: 155 cv a 6.300 rpm | G: 150 cv a 6.300 rpm |
Torque | E: 19,5 kgfm a 4.800 rpm | G: 19,3 kgfm a 4.800 rpm |
Câmbio | Manual, 6 marchas |
Tração | Dianteira |
Freios (d/t) | Discos ventilados/discos sólidos |
Suspensão (d/t) | McPherson/multibraço |
Dimensões (C/L/A) | 4,63 m / 1,80 m / 1,43 m |
Entre-eixos | 2,70 m |
Peso | 1.275 kg |
Porta-malas | 525 litros |