A apresentação oficial do Volkswagen Virtus não foi, para a marca, apenas o surgimento de um novo produto. Também foi uma oportunidade de a empresa dizer, com todas as letras, que quer de volta a liderança de mercado no Brasil. E de mostrar suas armas para chegar lá. A primeira delas será uma renovação de sua linha, semelhante à que deu à GM a atual primeira colocação em nosso mercado. Até 2020, teremos 20 novos produtos por aqui, dos quais 13 serão fabricados no Brasil, 2 na Argentina e 5 virão importados. A segunda, e mais importante, é a independência administrativa, algo que dará à Volkswagen a mesma agilidade de decisões que fez da Fiat, por exemplo, a líder de mercado no Brasil por tantos anos. Foi isso que nos disse Jürgen Stackmann, membro do conselho de administração da Volkswagen responsável por vendas, marketing e pós-venda.
Pode parecer estranho, mas foi o Dieselgate, um escândalo de proporções bilionárias, que fez com que nascesse uma nova Volkswagen. Ela provocou a saída do então CEO mundial, Martin Winterkorn, para a chegada de Matthias Müller, um executivo recomendado por ninguém menos que Ferdinand Piëch, o homem que fez da Volkswagen o que ela é hoje. Curiosamente, Müller adotou uma estratégia diferente da de Piëch, tornando a empresa menos centralizadora e com grandes ambições com veículos elétricos. Duas coisas que afetarão o Brasil diretamente.
No primeiro caso, ao tornar a empresa mais próxima de sua rede de concessionários. Antes da mudança, os diretores comerciais da Volkswagen não conversavam como deviam com os revendedores. Principalmente pela barreira da língua (eram todos alemães). E muitas das decisões que afetavam diretamente a companhia no mercado brasileiro eram tomadas na Alemanha. Exemplo menor disso, mas muito significativo, é o site brasileiro da empresa. Ele era atualizado por lá, não por aqui. Talvez ainda seja. "Com a descentralização, ganhamos agilidade na tomada de decisões, com um corpo diretivo muito mais próximo do mercado brasileiro e de sua cultura", disse Stackmann à KBB.
No segundo, o Brasil terá em breve dois dos modelos mais importantes da marca movidos a eletricidade: o Golf GTE, híbrido, e o e-Golf, inteiramente elétrico e líder de mercado na Noruega, país onde mais de 40% de toda a frota é elétrica. "Há uma série de conveniências que fazem aquele mercado querer apenas veículos elétricos. Se você perguntar a qualquer dono de elétricos hoje se ele quer voltar a ter um carro com motor a combustão, a resposta será negativa", disse Stackmann.
Com uma administração ágil, capaz de endereçar problemas em um ambiente instável como o brasileiro, e com uma série de novos produtos, como os crossovers T-Cross, confirmado para o segundo semestre de 2018, e o VW Tharu, que enfrentará diretamente o Jeep Compass, a Volkswagen realmente poderá voltar aos bons tempos. Talvez não de mais de 50% de mercado, como ela já chegou a ter, mas com um primeiro lugar em vendas no país. A meta é chegar a 1 milhão de unidades, com 800 mil veículos vendidos no Brasil e cerca de 200 mil exportados todo ano.