Eis aqui uma marca de carros sobre a qual você deverá ouvir bastante nos próximos anos: a Nio. A chinesa, antes conhecida apenas pelo nome de sua controladora, a NextEV, chegou chegando com o EP9, um hipercarro que bateu o recorde de veículos de produção em Nürburgring Nordschleife. No Salão de Xangai, ela apresentou também o SUV ES8, um SUV de 7 lugares com 5,02 m de comprimento, 1,96 m de largura, 1,75 m de altura e 3,01 m de entre-eixos para o qual ninguém deu muita pelota. Mas que consegue ser ainda mais impressionante do que o hipercarro em uma série de aspectos. E o principal deles é custar menos do que um Tesla Model X por um pacote equivalente ou até melhor que o do modelo norte-americano. A começar pelas baterias, que podem ser trocadas. Ideia que muita gente já tentou implementar, mas que a Nio deve tornar efetivo.
Uma das maiores dificuldades de modelos elétricos é o tempo de carregamento de suas baterias. Como uma recarga completa pode levar muitas horas, nasceu algo chamado de "ansiedade de autonomia", ou "range anxiety", em inglês. Os donos de elétricos ficavam com medo de ficar presos em algum lugar, ou sem carga nenhuma ou tendo de esperar o carregamento. Algo que baterias maiores, como as usadas pelos Tesla, conseguiram sanar, mas que também poderia ser solucionado por baterias menores e facilmente substituíveis. Tarefa que a empresa Better Place tentou completar. E na qual falhou miseravelmente, com falência declarada em 2013 e sua história muito bem contada pelo site Fast Company. A Nio propõe o mesmo modelo, mas sobre bases diferentes.
Para começar, é a Nio que faz seus carros, enquanto a Better Place usava veículos da Renault. Com isso, chegamos ao segundo grande diferencial do ES8: o preço. Enquanto um Tesla Model X começa nos US$ 101.950, o ES8 será vendido por RMB 448.000, equivalentes a US$ 67.837. Isso com a compra das baterias. E não é preciso comprar o carro com elas. Basta alugá-las, a um preço de RMB 1.280, ou menos de US$ 200 por mês. O sistema, chamado de Nio Power, permite trocar as baterias em estações especiais em menos de 3 minutos. Alugando as baterias, o Nio ES8 sai por RMB 448.000, ou US$ 52.695. Quase a metade do que a Tesla cobra pelo Model X mais barato. Na hora de passar o ES8 para a frente, isso obrigará o novo comprador a também assinar o serviço ou a adquirir o pacote de baterias, mas isso também deve se refletir no valor de revenda. As baterias, aliás, são quadradas, na linha das que a Toyota se dispôs a pesquisar com a Panasonic. O padrão atual são baterias cilíndricas, que tomam mais espaço.
O Nio ES8 tem um pacote de baterias de 70 kWh. Menor do que o menor pacote oferecido pela Tesla no Model X, de 75 kWh, mas nem por isso pior. O Tesla Model X 75D vai de 0 a 96 km/h em 4,9 s. O Nio ES8 faz o mesmo em 4,4 s. Sem surpresas, já que ele tem dois motores elétrico, um para cada eixo, com uma potência total de 480 kW, ou 653 cv, e um torque de 840 Nm (85,7 kgfm). A Tesla informa uma autonomia máxima de 380 km para o mesmo Model X. A Nio diz que o ES8 pode chegar a 500 km de autonomia rodando a 60 km/h constantes, ou a 355 km sob o ciclo NEDC. O que provavelmente se explica pela boa aerodinâmica do SUV chinês, com coeficiente de 0,29 (baixíssimo para um modelo com esse tipo de carroceria), e também pelo baixo peso. Segundo a Nio, o modelo é construído com uma liga de alumínio de grau aeroespacial da série 7003, o que lhe dá uma rigidez torcional de 44.140 Nm/grau. Para dar um parâmetro de comparação, segundo o site YouWheel, o VW Golf IV, o primeiro fabricado no Brasil, tinha rigidez de 17.600 Nm/grau e o Honda Civic atual, de 35.975 Nm/grau. Quem mais se aproxima do ES8 é o BMW Série 6 Coupé, com 43.000 Nm/grau.
Com dados tão expressivos, pode parecer surpreendente que o modelo seja vendido primeiro na China e não nos EUA, berço da Tesla. Mas não é. A China é hoje o maior mercado de carros do mundo. Se a Nio for bem em sua terra natal, ela terá base sólida para se aventurar também por outros mercados, como o norte-americano. Com tecnologias como o Nio Pilot, um sistema de condução semi-autônoma, como o Autopilot da Tesla, mas com 23 sensores, incluindo uma câmera frontal trifocal, quatro câmeras em torno do carro, 5 radares de ondas de 5 mm, 12 sensores ultrassônicos e uma câmera de monitoramento do motorista, além de ser o primeiro modelo do mundo com o chip Mobileye EyeQ4, capaz de proporcionar autonomia de nível 3, que permite que o motorista não preste atenção no trânsito. O nível 4 é o primeiro considerado totalmente autônomo.
Para ajudar o motorista, a Nio promete o NOMI, primeiro sistema de inteligência artificial presente no próprio carro. Ele funcionará como o Toyota Kirobo Mini, com a diferença de ser embutido no veículo e de provavelmente dispor de mais recursos.
Por ora, o modelo é vendido apenas na Nio House de Pequim, um espaço que vai além de uma mera concessionária. Ela tem espaço para festas, aulas de yoga, entretenimento para crianças e até uma cozinha aberta. Além da Nio House de Pequim, a marca pretende abrir mais 9 Nio Houses em cada uma das maiores cidades chinesas: Xangai, Shenzhen, Nanjing, Cantão, Hangzhou, Chengdu, Hefei, Suzhou e Wuhan. As vendas já começaram, mas ainda não há previsão para início das entregas. Provavelmente depois de o modelo conseguir cumprir com sua quilometragem de testes, de "apenas" 3 milhões de km.