Para muita gente, não bastou ver um vídeo em que um Chevrolet Bel Air 1959 bate com um Chevrolet Malibu 2009 e se despedaça, enquanto o carro mais moderno mantém sua cabine muito mais íntegra. A crença de que uma "lataria mais grossa" protegia mais e de que os carros passaram a ter chapas de aço mais flexíveis por questões de custo ainda persiste. Pois a NHTSA, a agência americana de segurança no trânsito, reforça mais uma vez a questão da evolução da segurança nos automóveis ao mostrar dados previsíveis, mas nem por isso menos chocantes: a quantidade de mortes de ocupantes nos carros dependendo de seus anos de fabricação. Como se poderia imaginar, quanto mais antigo o carro é, mais ele mata seus passageiros.
O estudo, apresentado pela NHTSA em abril deste ano, mostra que 55% dos ocupantes de veículos anteriores a 1984 morrem em acidentes de trânsito. A proporção cai gradualmente até chegar a uma porcentagem de 26% de ocupantes mortos em veículos fabricados entre 2013 e 2017. Tudo por conta da adoção progressiva de equipamentos como airbags, pré-tensionadores de cintos e mesmo de elementos ativos de prevenção de acidentes graves, como controle de estabilidade e de tração. Também não se pode descartar a adoção das normas ECE da ONU para crash-tests, que se refletiram em projetos de habitáculos mais resistentes, com aços de alta e ultra alta resistência. São esses materiais que fazem a diferença no vídeo que mencionamos acima. O que você pode ver logo aí embaixo.
Não é a primeira vez em que a renovação de frota para tornar o trânsito mais seguro vem à baila. A ANCAP já falou disso há pouco menos de um ano, mostrando a mesmíssima coisa que a NHTSA se esforçou em mostrar agora com suas estatísticas. E exibindo um vídeo com modelos que não tinham 50 anos de diferença de idade, mas bem menos: um Corolla 1998 contra um 2015. Confira a diferença de comportamento.
É por essas e outras que os testes de colisão, como os efetuados pelo Latin NCAP, são fundamentais para permitir que o trânsito brasileiro mate menos pessoas do que atualmente. Eles mostraram, por exemplo, que havia modelos muito bem vendidos no país que eram nota 0 em segurança. Um deles, aliás, continua a ser, enquanto o outro já foi corrigido. É preciso ter testes obrigatórios por aqui, que mostrem o nível de segurança oferecido por cada modelo vendido, ainda que os consumidores escolham continuar a comprar carros inseguros. Com um centro de crash-test brasileiro. E um estímulo à renovação de frota, seja com menos impostos ou com incentivos para a troca. Tudo para permitir que os carros vendidos por aqui ofereçam o mesmo nível de segurança dos vendidos no exterior.
É evidente que isso será apenas uma gota no oceano se a forma como o brasileiro dirige também não mudar radicalmente. Bastaria um pouco mais de consciência ao volante para que nossos índices de mortes no tráfego caíssem de forma vertiginosa. Que o Maio Amarelo nos ajude a refletir sobre isso.