Não se engane pelo estilo futurista do GFG Style Sybilla. Ele vai muito além de ser um conceito comemorativo pelos 80 anos de Giorgetto Giugiaro. Ou uma homenagem à mãe do famoso designer italiano, Maria Sibilla. Ou de seus detalhes técnicos interessantes, como o fato de ser elétrico e de ter um canopi. Como um jato. O que o Sybilla tem de mais impactante é o conceito que apresenta, o de uma Internet da Energia. Na qual cada automóvel poderia ser chamado de um "servidor".
Isso acontece porque o projeto foi feito pela GFG, ou Giorgetto & Fabrizio Giugiaro, empresa de design criada por pai e filho depois de eles terem vendido a Italdesign para a Volkswagen, e pela Envision, uma companhia chinesa de geração de energia. Ela pretende revolucionar o mercado mundial com o que chama de EnOS, algo como Energy Operating System, o sistema operacional da Envision. Ele tem como ponto de partida o que a empresa chama de "Entopia", um nome perigosamente próximo de entropia, mas há que se dar um desconto aos chineses...
O que a Entopia propõe é criar uma rede de energia limpa pelo mundo com o uso de geração eólica e solar. Mas não apenas isso. Esses sistemas de geração limpa de energia seriam interligados a automóveis. Uma das maiores críticas feitas a sistemas eólicos e solares de energia é que eles precisariam de grandes baterias para armazenar a eletricidade que gerariam em seus horários de maior produção, mão necessariamente os de maior consumo. E é justamente aí que os automóveis elétricos, com suas enormes baterias, entram na história.
Com o EnOS, a Envision pretende viabilizar o uso dos smart grids, sistemas elétricos que não apenas recebem energia da concessionária, mas que também conseguem entregá-la. E ela fará isso por meio de um software de uso livre que será uma espécie de "maestro energético", controlando quem gera a energia, onde ela é armazenada, quem pode consumi-la e assim por diante. Algo em que outras fabricantes de automóveis também estão de olho, como Hybrid Kinetic, ou HK, Mitsubishi e Nissan, que já divulgou a imagem abaixo sobre seu conceito de smart grid. E as vantagens que ele oferece: maior estabilidade da rede elétrica, por sempre ter de onde tirar energia, segurança para o dono de um carro elétrico, capaz de sustentar sua casa por no mínimo 2 dias de consumo, e até uma fonte de renda para o dono do elétrico, que pode vender a energia guardada nas baterias de seu veículo de volta à rede de distribuição.
Em muitos países, a energia é tarifada de modo diferente dependendo do momento do dia em que você a consuma. No Brasil, isso começou a valer, para alguns consumidores, a partir de janeiro. Pense conosco: você só usa seu carro o dia todo se for um caixeiro viajante ou tiver alguma atividade comercial que o envolva. A maioria dos mortais só o utilizam para ir ao trabalho e voltar para casa no final do dia. Eventualmente para viajar com a família nos finais de semana. Com isso, o carro ficará parado por pelo menos 8 horas em algum estacionamento. Nesse tempo, a energia elétrica talvez seja mais barata, o que permite carregar as baterias a custo mais baixo. Ao voltar para casa, com as baterias completamente "cheias", o dono do carro ou pode usar a energia do carro para abastecer sua casa, evitando a tarifa mais salgada, ou pode vender essa energia de volta ao sistema. Ainda com carga suficiente para ir ao trabalho no dia seguinte e deixar o carro carregando no horário mais barato.
Confira o vídeo acima, do Nissan IMx, o crossover do Leaf. Lá pelo 1:45, acontece algo interessante: o crossover se estaciona sozinho e o aplicativo no celular pergunta ao motorista se ele quer pagar o estacionamento com dinheiro ou com energia das baterias. E ele escolhe pagar com eletricidade, fazendo o carro fornecer energia ao local. Energia sempre foi uma moeda forte, como sabiam as petroleiras na época em que o petróleo era a maior e mais importante fonte dela. Hoje, o nome do jogo é eletricidade. Tanto que a Tesla talvez não seja apenas uma fabricante de automóveis, mas uma peça chave na estratégia de Elon Musk de dominar essa nova mina de ouro. É isso que explica a fusão entre a Tesla e a Solar City, empresa de energia solar de Elon Musk. Que já deu seus primeiros frutos: no site da Tesla há os modelos à venda e também uma aba chamada Energy (Energia). Que vende, entre outros produtos, o Tesla Solar Roof, que torna qualquer telhado um produtor de energia solar. Há telhas lisas, texturadas e até em estilo toscano e rústico. Que pode ser integrado às baterias Powerwall, também da Tesla. E que poderão ser fabricadas, no futuro, com baterias que não servem mais para os automóveis.
Mas, afinal, onde entra o conceito de Giugiaro, o Sybilla? Simples: ele é compatível com o EnOS, o que, segundo a Envision, pode transformá-lo em uma usina de energia limpa. Com uma bateria de 75 kWh, nem de longe a maior hoje disponível no mercado, o Sybilla seria capaz de sustentar uma casa europeia típica por até uma semana. Se for preciso, já que o EnOS já é uma rede de 100 GW em todo o mundo.
O Sybilla, que também é o nome das profetizas romanas, capazes de prever o futuro, tem mais de 5 m de comprimento, 1,48 m de altura e 4 portas inusitadas. A parte envidraçada delas é separada da carroceria propriamente dita. Na dianteira, como já mencionamos, um canopi vai para a frente. Na traseira, asas de gaivota elevam a parte envidraçada. Em baixo, portas convencionais dão acesso ao interior. Com dois motores elétricos por eixo e uma câmera de 180° para substituir os retrovisores, o Sybilla tem 4 bancos individuais, mas poderia ter até 6, já que tem assoalho plano. Saberemos mais detalhes técnicos do modelo com sua apresentação no Salão de Genebra, mas o importante é que ele vai muito além da proposta excêntrica de estilo ou de ser mais um mero elétrico. O Sybilla realmente adianta o futuro. Dos automóveis e da própria sociedade.