Em "Kung Fu Panda 3", o personagem Kai era um ilustre desconhecido. Quando se apresentava, ele tinha de citar o mestre Oogway para que alguém o reconhecesse. Apesar de terem o mesmo nome, o novo conceito da Mazda não deve sofrer deste problema de identidade. Ele será eternizado como "aquele que antecipou a nova geração do Mazda3". Outro carro histórico antes mesmo de nascer, já que ele será o primeiro a adotar um motor SPCCI de produção, o SKYACTIV-X.
Se toda essa história parece confusa, pode deixar que a gente explica. A começar pela parte mais interessante: o novo motor com o ciclo SPCCI, que vem de SPark Controlled Compression Ignition, algo como ignição por compressão controlada por faísca. Em outras palavras, este motor consegue dispensar as velas em determinadas situações, atuando como motores do ciclo Diesel. O vídeo abaixo mostra bem como ele funciona.
Com esse tipo de ignição, o motor consegue mais torque e um aproveitamento mais completo do combustível. Isso porque, nos motores de ciclo Otto, a vela inicia a combustão e a chama se propaga para o resto da mistura de modo relativamente lento. No Diesel, a compressão faz com que toda a mistura se inflame quase simultaneamente. A queima é muito mais uniforme, o que diminui o desperdício e aumente a eficiência energética do motor, algo que os fabricantes querem dinamizar nos motores a combustão antes que eles saiam de cena em prol dos elétricos.
E por que usar gasolina em um motor que é quase de ciclo Diesel? Por uma série de razões, sendo a principal delas o fato de a gasolina produzir menos particulados do que o diesel, por ter menor teor de enxofre, e de seu processo de purificação de gases ser mais simples. Aliás, são esses os aspectos que a Mazda ressalta no vídeo acima: o SPCCI une o torque (até 30% maior que o de um motor a gasolina comum), a economia de combustível (também até 30% mais alta) e a prontidão de resposta de um Diesel à facilidade de purificação de gases, à potência e às temperaturas mais baixas de um motor Otto. O melhor dos dois mundos.
No que se refere ao conceito, o Mazda Kai mostra que o Mazda3 será um hatchback médio muito elegante. Ele segue o estilo KODO de design e é construído sobre outra novidade da marca japonesa, a plataforma SKYACTIV-Vehicle Architecture. Provavelmente uma plataforma modular que servirá a todos os modelos da Mazda, assim como acontece hoje como todos os demais fabricantes: MQB, para a Volkswagen (entre outras), TNGA, para Toyota, SPA, para Volvo e daí em diante. Mais leve, mais forte e com ganhos de escala bastante expressivos.
A Mazda saiu do Brasil em novembro de 2000. Nos mercados em que ainda atua, ela segue o plano estratégico "Sustainable Zoom-Zoom 2030", que aposta no prazer ao dirigir como pilar de crescimento. E ele tem se mostrado sucesso de crítica, algo que tende a se tornar ainda mais intenso com o "Santo Graal" dos motores a combustão. Que pena termos de assistir a tudo isso de camarote...