O arsenal da Fiat está completo. Com o lançamento do Cronos, realizado num evento no Rio de Janeiro (RJ) nesta semana, a marca italiana encerra o primeiro ciclo de renovação da sua gama após a fusão com a Chrysler, em 2014, para tentar recuperar o lugar que lhe pertenceu até 2015: a liderança entre as fabricantes nacionais de automóveis. E com preços competitivos, partindo dos R$ 53.990 até os R$ 69.990, o sedã do Argo promete, ao menos, fazer bastante barulho para ser "o melhor do segmento". Suas vendas começam em março.
A Fiat está engajada em transmitir ao público a imagem de que o Cronos é o sedã perfeito para a família brasileira. A ideia é apelar à polivalência do modelo para conquistar homens casados de 35 a 50 anos com filhos (o perfil de quem busca um sedã compacto, segundo a Fiat) que querem um carro confortável o suficiente para viajar nos finais de semana e pegar no batente de segunda a sexta. Para provar seu ponto, a companhia tratou de comparar sua novidade, sem cerimônia nenhuma, a seus rivais diretos.
O Cronos tem a mesma distância entre-eixos do Argo: 2,52 m. Mas a Fiat fez questão de ressaltar que isso não interfere em nada na "habitabilidade" do carro, garantindo que há espaço de sobra para até três ocupantes nos bancos de trás do sedã. Para reforçar essa ideia, a marca compara o 1,77 m que o Cronos oferece de espaço para as pernas (somando as duas fileiras), com o 1,63 m do Hyundai HB20S, o 1,72 m do Chevrolet Prisma e o 1,74 m do Toyota Etios.
A largura na altura dos cotovelos para três pessoas atrás também é mais generosa no Cronos, segundo a Fiat, uma vez que o 1,43 m dele é maior que o 1,36 m do HB20S, o 1,37 m do Chevrolet Prisma e igual ao 1,43 m do Toyota Etios. A carroceira do lançamento também é ligeiramente mais comprida e mais larga que a destes três concorrentes, assim como a bitola traseira (distância entre as rodas do mesmo eixo).
Sentiu falta de alguém nessa comparação? Pois é: embora o recém-lançado Volkswagen Virtus tenha aparecido timidamente na apresentação do Cronos (e seja tido por muitos como o arquirrival do Fiat), a companhia italiana deixou bem claro que quer se distanciar do alemão. Isso porque, se ela os comparasse, os 4,48 m de comprimento, 1,75 m de largura e os 2,65 m de distância entre-eixos do Virtus deixariam o Cronos em maus lençóis. A única vantagem do Fiat sobre o VW seria menos de 1% a mais de bagageiro (525 litros no Cronos, contra 521 litros no Virtus).
Mas a briga do Cronos é mais embaixo na tabela de preços dos sedãs compactos. Enquanto a Volkswagen posiciona o Virtus como um compacto premium, que parte dos R$ 60 mil a quase R$ 80 mil em sua versão mais cara, a Fiat ataca na faixa dos R$ 53.990 com a versão 1.3 manual de entrada do Cronos, que certamente o faz saltar aos olhos de quem precisa de um carro espaçoso e confortável para trabalhar (e que é razoavelmente bem equipado de série, como detalharemos adiante).
O topo da gama do Cronos também passa longe da que seria sua versão equivalente no Virtus. O conjunto de motor 1.8 com câmbio automático do sedã do Argo parte de R$ 69.990, exatamente R$ 10 mil a menos que o Virtus Highline TSI. A situação só não fica perfeita para o Cronos porque os airbags laterais, câmera de ré e outros mimos são opcionais para a versão Precision. Totalmente equipado, com pintura perolizada (que acrescenta R$ 2.000 ao preço) e todos os opcionais (kit Style, kit Tech e os itens que já mencionamos), o Cronos sai por R$ 82.330. O Virtus traz boa parte destes equipamentos por R$ 79.990. Totalmente equipado, ele custa R$ 87.040, o que inclui um vistoso painel totalmente digital, o Active Info Display. E ainda vem com mais espaço interno, o que confirma que o Cronos topo de linha terá vendas limitadas.
Com esta estratégia mais ousada de preços, a Fiat pretende emplacar entre 3.000 e 3.500 unidades do Cronos por mês até o final do ano. Caso concretizada, essa previsão não vai lhe render nenhum lugar privilegiado no ranking dos 20 modelos mais vendidos do país e talvez tenha pouco efeito na retomada da Fiat no mercado, mas oficialmente a marca não está preocupada com isso. Ao menos não por enquanto. Perseguir a liderança, para eles, será algo natural nos próximos anos, não agora.
AS DIFERENÇAS ENTRE CRONOS E ARGO
Chamar o Cronos de "sedã do Argo" seria 70% equivocado, segundo a Fiat. Afinal, a plataforma MP-S, que dá vida ao hatch (e é em parte herança do finado Punto) foi retrabalhada sobretudo da coluna B para trás, obviamente, para dar origem ao terceiro volume, com porta-malas de 525 litros. As bitolas também são mais largas no Cronos, a fim de entregar melhor dirigibilidade, devido às novas proporções do carro, de acordo com a Fiat.
Para embasar seu argumento, a Fiat mostrou as imagens abaixo na coletiva de imprensa. Segundo a marca, tudo o que está em verde é exclusivo do Cronos, portanto só as portas dianteiras, para-brisa e alguns aços do cofre do motor e do chassi seriam compartilhados com o Argo. Na prática, são as adaptações necessárias para a criação de um sedã. Chamar a plataforma de MP-S não muda o fato de que estamos diante da MPI. Inclusive com o mesmo entre-eixos, ainda que com plataforma eventualmente reforçada. Se tudo fosse realmente tão novo, a Fiat teria aproveitado para dar ao Cronos um entre-eixos mais longo. Como o do Virtus.
Ainda no esforço de diferenciar o sedã do hatchback, a Fiat diz que a frente do Cronos não é a mesma adotada pelo Argo. De fato, mas não é tão diferente que não confunda os menos atentos, como a do agora finado Palio e a do Grand Siena, por exemplo. A Fiat decidiu incorporar vincos mais visíveis no capô e mudar o desenho da grade e do para-choque. Tudo para atribuir ao sedã um visual mais esportivo e "musculoso", segundo a própria fabricante. O Cronos também não oferece o motor 1.0 Firefly em sua gama. Só há o 1.3 de 109 cv e o 1.8 de 139 cv.
Em relação aos equipamentos, sente-se falta apenas do stop-start nas versões manuais do Cronos 1.3. O recurso é de série até nas opções 1.0 do Argo, mas no Cronos, "por motivos mercadológicos" (leia-se redução de custo) não está presente no sedã nas duas versões mais baratas (ele aparece somente a partir da 1.3 GSR, com câmbio automatizado).
PREÇOS E VERSÕES
Fiat Cronos 1.3: R$ 53.990 - Rádio Connect MP3/USB/Bluetooth, volante multifuncional, Isofix, ar-condicionado, direção elétrica, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, chave com telecomando, quadro de instrumentos com tela TFT de 3,5 polegadas, volante com regulagem de altura, banco do motorista com regulagem de altura e monitoramento de pressão dos pneus.
Fiat Cronos Drive 1.3: R$ 55.990 - Tudo da versão 1.3 mais central multimídia Uconnect de 7 polegadas, 2ª entrada USB. Opcionais: Kit Stile (R$ 2.990 por rodas de liga leve de aro 15, faróis de neblina e banco traseiro bipartido), Kit Parking (R$ 1.600 por câmera de ré e sensor traseiro), Kit Convenience (R$ 1.990 por retrovisores elétricos e vidros elétricos traseiros) e alarme (R$ 650)
Fiat Cronos Drive 1.3 GSR: R$ 60.990 - O pacote anterior mais câmbio automatizado, controle de estabilidade, assistente de partida em rampa, stop-start, paddle shifts, controlador de velocidade, apoio de braço para o motorista, vidros elétricos traseiros, retrovisores elétricos e repetidores de seta nos retrovisores. Opcionais: os mesmos do Drive 1.3 manual.
Fiat Cronos Precision 1.8: R$ 62.990 - Além do motor 1.8, ele soma aos itens já oferecidos rodas de liga leve de aro 16, faróis com LED design, sensor de estacionamento traseiro, volante com regulagem de profundidade, além de altura, alarme e faróis de neblina. Opcionais: Kit Stile (R$ 3.500 por rodas de liga leve de aro 17, bancos de "couro ecológico", maçanetas e frisos cromados; os bancos "de couro" e as rodas de aro 17, no Virtus, custam R$ 2.000), Kit Tech (R$ 3.990 por ar-condicionado digital, quadro de instrumentos com tela de 7 polegadas, chave remota, sensor de chuva, sensor crepuscular e retrovisor eletrocrômico), airbags laterais (R$ 2.600) e câmera de ré (R$ 650).
Fiat Cronos Precision 1.8 Automático: R$ 69.990 - Conteúdo idêntico ao da versão Precision manual a não ser pela transmissão automática de 6 marchas e pelas borboletas atrás do volante.
COMO ANDA O CRONOS 1.3
O test-drive disponibilizado pela Fiat na capital carioca permitia que cada jornalista dirigisse o Cronos por pouco mais de 30 km, num percurso majoritariamente urbano e de poucas curvas. A primeira impressão que tivemos com o sedã, portanto, não se distanciou quase em nada do que vemos no Argo (que já avaliamos no nosso canal no Youtube, conforme você pode conferir neste link).
Isso não é nenhum demérito para o Cronos, uma vez que o motor 1.3 Firefly de 109 cv e 14,2 kgfm de torque entrega um desempenho bastante agradável. Como o pico de torque surge já em médias rotações (3.500 rpm), o sedã tem fôlego suficiente para rodar sem esforço, ainda que tenha marchas um pouco mais longas.
Dinamicamente, o Cronos apresenta inclinação de carroceira praticamente idêntica à do Argo, isto é, controlada e até surpreendente considerando o nível dos carros da Fiat pré-FCA. São 55% de aços de alta resistência e 20% de ultra alta e "hot stamping" utilizados no chassi do modelo, ou seja, bons materiais para proporcionar mais rigidez torcional, o que garante respostas dinâmicas mais precisas, quando sob o estresse de curvas, e proteção em batidas. A Fiat garante nota mínima de 3 estrelas no Latin NCAP. Falta apenas efetivamente mostrar isso nos testes.
Como não enfrentamos trânsito durante o teste, os 13 km/l obtidos pelo Cronos 1.3 manual devem ser interpretados como otimistas. Mas este motor já criou uma reputação respeitável no que se refere a consumo. Leve em conta que sedãs são mais aerodinâmicos que hatchbacks e fica a certeza de que o sedã do Argo será mais economico do que o hatchback. Ainda que por margem pequena.
No geral, você pode esperar do Cronos o mesmo comportamento dinâmico e fôlego do seu irmão hatch, até porque o sedã é 1 kg mais leve (1.139 kg ante a 1.140 do Argo). A explicação para esse fenômeno raro talvez esteja no uso de aços mais nobres no sedã e também no conteúdo menos generoso.