Os principais SUVs compactos do país têm opções de motores maiores e mais potentes. Por isso, quando a Nissan lançou o Kicks no Brasil, a grande dúvida gerada nos consumidores foi: "Será que esse motor 1.6 aguenta o tranco?". Se fôssemos responder em uma única palavra... Seria "sim". Ou "aguenta"!
É claro que a gente precisa fazer algumas ressalvas, que serão detalhadas ao longo desta avaliação, mas você não deveria descartar o Kicks se essa for sua principal preocupação. Aliás, os números de vendas dele comprovam que seus outros atributos compensam, com facilidade, a potência modesta de 114 cv do utilitário. Embora não esteja entre os três mais vendidos, o japonês de Resende (RJ) lidera o segundo pelotão de SUVs compactos mais vendidos, o que não é nada mal para quem tem apenas um motor para oferecer ao consumidor (o Honda HR-V compartilha a mesma desvantagem, mas tem um 1.8 de 140 cv sob o capô).
Você gostará do Nissan Kicks S CVT se...
Para quem quer ostentar um crossover compacto de visual diferente, o Kicks é a melhor opção do mercado para isso atualmente. Quase idêntico ao conceito mostrado em 2014, o desenho do Kicks se afasta da receita tradicional da silhueta dos utilitários para ajudar até mesmo a aerodinâmica do carro (e, assim, poupar combustível). Ao volante, o modelo surpreende pelo nível de prazer de sua dinâmica, próxima à da referência neste quesito no segmento (o Hyundai Creta).
O Kicks manda bem nos quesitos funcionais, com espaço razoável para três pessoas atrás e bancos bipartidos. Apesar de não ser tão criativo quanto o Honda HR-V em porta-objetos, ele traz boas soluções para abrigar suas coisas na cabine.
Talvez você não curta muito...
O motor 1.6 não é ruim a ponto de fazê-lo desistir de comprar um Kicks, mas é justo dizer que ele pode não ser a qualidade mais admirada no modelo. Como você entenderá melhor a seguir, seu desempenho é bom para a cidade, mas na estrada ele exigirá mais atenção em determinadas situações. Outra potencial frustração é a ausência de alguns equipamentos que distinguem o Kicks da concorrência em sua versão mais cara, como funções mais elaboradas do controle de estabilidade e a câmera de 360º.
O que tem de novo em 2017
O Nissan Kicks já foi lançado como modelo 2017 quando desembarcou por aqui vindo do México no meio do ano passado. Porém, foi a partir deste ano que ele começou a ser fabricado no Brasil, em Resende (RJ), ganhando mais duas versões nacionais: a S (manual e CVT, que estamos avaliando) e a SV. Ambas foram posicionadas abaixo da SL (topo) e da SV Limited, que saiu de linha.
Dirigindo o Nissan Kicks S CVT
A Nissan se orgulha de equipar todos os Kicks com o que ela chama de bancos "Zero Gravity", que prometem acomodar o condutor (e passageiro) de maneira mais anatômica. De fato, o nível de conforto do assento se destaca do oferecido pelos demais rivais e a posição de dirigir mais vertical e elevada cumpre com a exigência do público que busca um SUV. Sente-se falta, apenas, de um ajuste de profundidade do volante, mas encontrar a postura ideal para conduzir o carro não é difícil, pois a cabine é bastante ergonômica.
Os 114 cv e 15,5 kgfm de torque disponíveis para o pedal direito são suficientes para você não passar nervoso na cidade. O Kicks enfrenta laderias e arranca de semáforos com o embalo necessário para não prejudicar o conforto ao dirigir. A sua paciência só será testada em rodovias, caso você precise apelar para o kick down, pisando forte no acelerador para extrair o máximo desempenho do motor em pouco tempo. Se você for obrigado a realizar alguma ultrapassagem em rodovia de mão dupla, você terá que calcular com mais cautela o espaço necessário para a manobra, considerando que a retomada de velocidade não será tão ágil quanto a de outros crossovers do segmento.
Porém, o que atenua de maneira considerável a propensão à monotonia do Kicks é o comportamento do câmbio CVT. A caixa simula 6 marchas virtuais, o que permite explorar melhor a curva de torque do carro, além de reagir mais rápido às diferentes pressões no pedal direito, baixando o giro do motor tão logo o motorista retire o pé. Esta esperteza do câmbio é a grande responsável por fazer o crossover passar a sensação de que tem mais do que 114 cv, ainda que ela não consiga esconder suas limitações em situações mais exigentes.
Outro aspecto que surpreende no Kicks é sua dinâmica. A direção elétrica do modelo tem respostas rápidas e sua carroceria sofre pouca inclinação nas curvas, transmitindo confiança suficiente até para atacá-las com velocidades um pouco mais elevadas. A transferência de peso entre os eixos em frenagens e curvas fechadas é pequena, o que aumenta a sensação de conforto a bordo.
É uma pena que a versão S, de entrada, não conte com recursos do controle eletrônico de estabilidade que dariam ao Kicks uma dirigibilidade ainda mais apurada. Não estão disponíveis a vetorização de torque e o "controle dinâmico de chassi", que atenua a oscilação vertical do carro em pisos irregulares (como emendas de pontes). Estes dois itens só constam da opção SL, topo de linha.
Quanto ao consumo, de acordo com o Inmetro, o Kicks é nota A na categoria, obtendo média de 8,1 km/l na cidade e 9,6 km/l em rodovias, abastecido com etanol. A gasolina, são 11,4 km/l na cidade e 13,7 km/ em rodovias. Durante nossos teste, o nível de consumo a etanol, em trajeto misto, ficou ao redor dos 8,8 km/l.
Sacadas inteligentes
Como a versão S do Kicks não conta com o conjunto de câmeras 360º, central multimídia de 7 polegadas nem com os recursos que citei do ESC, o principal destaque dela em relação à concorrência fica a cargo do câmbio CVT Xtronic, que faz toda a diferença para atribuir ao modelo um comportamento mais agradável.
Detalhes do Nissan Kicks S CVT
Interior
Existe uma ambiguidade estranha na cabine do Kicks no que diz respeito ao seu design e acabamento. Olhando de frente para o painel, o visual casa com a ousadia vista por fora, com linhas mais curvas, volante de base reta e, se forçar um pouco a imaginação, até uma referência à fibra de carbono no desenho da peça de plástico central. Agora, ainda que o rádio simples desta versão destoe do toque moderno e esportivo no painel, o que é inexplicável é a falta de capricho no acabamento das portas.
Há uma clara ausência de preenchimento ali, que puxa para baixo a sensação de requinte da cabine, especialmente por conta da maçaneta, sem borda ou acabamento nenhum.
No quesito funcionalidade, há boas soluções para abrigar o celular e copos no console central, mas poderiam ter colocado um baú central, que serviria de apoio de braço para os ocupantes. Atrás, os 2,62 m de distância entre-eixos garantem espaço razoável para três pessoas, com conforto para pernas e cabeça. O porta-malas tem capacidade para bons 432 litros (maior do que o do Honda WR-V e o do Ford Ecosport).
Exterior
Como destacamos no início, o visual do Kicks é seu chamariz. Muito próximo do conceito de 2014, as linhas com recortes abruptos e ângulos pontiagudos dão um aspecto bastante moderno ao carro, trazendo uma abordagem diferenciada à silhueta tradicional dos crossovers. A frente é marcada pelos faróis, capô e grade, formando uma espécie de "V", enquanto a traseira é encorpada, marcada pelas lanternas com desenho estilizado.
Equipamentos
A versão S do Kicks é a de entrada. Ela vem equipada com ar-condicionado, controle de estabilidade, bancos bipartidos, direção elétrica, rádio com entrada USB e Bluetooth, comandos no volante, trio elétrico e rodas de liga leve de aro 16.
Sob o capô
Todos os Kicks são equipados com o motor 1.6 de quatro cilindros em linha, 16V e duplo comando no cabeçote (por corrente). Potência e torque são os mesmos com etanol e gasolina: 114 cv a 5.600 rpm e 15,5 kgfm a 4.000 rpm.
Sobre o preço
Partindo de R$ 80.490, a versão de entrada com câmbio CVT do Kicks bate de frente com Honda WR-V EX (R$ 79.400) e com o novo Ford Ecosport SE (82.990). Em relação ao Honda, embora ele não conte com o importante ESC, que vem de série no Kicks, o modelo é significativamente mais bem equipado, com direito a uma tela de 5 polegadas para o sistema de som e câmera de ré. O embate com o Ecosport é ainda pior para o Kicks neste quesito, uma vez que o Ford conta com 7 airbags, controle de estabilidade e a central multimídia Sync com tela de 6,5 polegadas, compatível com Apple CarPlay e Android Auto. Talvez seja esta defasagem de equipamentos que torne a versão S do Kicks apenas a quarta mais vendida do mix do modelo, correspondendo a 13% do total. De longe, a preferida do consumidor é a topo de linha SL, que conta com os equipamentos mais tecnológicos do portfólio do utilitário, como o conjunto de câmeras de 360º.
Ficha técnica
Modelo | Nissan Kicks S CVT |
Motor | dianteiro, transversal, de quatro cilindros, com quatro válvulas por cilindro, comando variável na admissão e no escape, 1.598 cm³ |
Potência | 114 cv (G ou E) a 5.600 rpm |
Torque | 15,5 kgfm (G ou E) a 4.000 rpm |
Câmbio | CVT |
Tração | Dianteira |
Freios (d/t) | Discos ventilados / tambores |
Suspensão (d/t) | McPherson / eixo de torção |
Dimensões (C/L/A) | 4,29 m / 1,76 m / 1,59 m |
Entre-eixos | 2,62 m |
Peso | 1.109 kg |
Porta-malas | 432 litros |