Tem gente que diz que nasceu na época errada. Queria ter nascido algumas décadas antes para ter experiências que já não existem mais. Como a de comprar um McLaren F1 novo. Quem acha que isso não é mais possível vai comemorar muito por saber que, na verdade, é. Não se trata de máquina do tempo, mas sim de um cliente meticuloso da McLaren, que teve o cuidado de comprar seu F1 e deixá-lo intocado desde 1997 até hoje. Em suma, pelos últimos 20 anos. Nem emplacado ele foi! E está à venda na loja britânica Tom Hartley Jnr.
Se você não conhece o McLaren F1, saiba que é considerado o primeiro hipercarro do mundo. E é, até hoje, um dos veículos mais extraordinários já criados. Projetado por Gordon Murray, o pai dos modelos que deram títulos mundiais a Ayrton Senna, o F1 tinha uma série de detalhes que o tornam uma joia mecânica, daquelas capazes de atingir cifras astronômicas entre fãs de carros. Tanto que um dos mais recentes a serem vendidos, nos leilões que acompanham o evento de Pebble Beach, nos EUA, chegou a US$ 15,62 milhões. Coisa de R$ 49,5 milhões, pelo câmbio do dia 18 de outubro. Nos EUA, onde os carros são muito mais baratos do que aqui.
Reparou em todo esse dourado no revestimento do cofre do motor do F1? Não se trata de capricho ou ostentação inútil, mas sim de ouro. Cerca de 16 gramas de folhas de ouro foram usadas como defletores de calor para manter o peso do carro baixo. O motor é um V12 6.1 da BMW, sem turbo, desenvolvido especialmente para o F1. Ele rende 636 cv a 7.400 rpm e 66,4 kgfm a 5.600 rpm e é montado em posição central traseira. A posição de dirigir também é central, com dois bancos para passageiros, um de cada lado do motorista. Outra curiosidade é que o F1 tem três porta-malas (um na frente e um em cada lateral). As portas são do tipo borboleta, também chamadas de diedrais.
As capas em torno dos bancos e do painel não são cuidado do vendedor. São as proteções originais de fábrica. Até o cheiro deve ser de carro novo, considerando o cuidado que o dono do veículo teve em mantê-lo exatamente como saiu da McLaren. O odômetro marca exatos 239 km, a quilometragem de teste que os veículos faziam antes de serem entregues a seus proprietários. Apenas 106 unidades foram fabricadas, sendo apenas 64 do modelo de rua. O que está à venda é um dos últimos, de chassi 60.
Com 4,29 m de comprimento, 1,82 m de largura, 1,14 m de altura e entre-eixos de 2,72 m, o McLaren F1 pesava apenas 1.138 kg. Ele é do tamanho exato do atual Mini Countryman, que pesa 1.390 kg em sua versão mais leve. Com seu V12, ele chega aos 100 km/h em 3,7 s e chegou à máxima de 386,4 km/h em 31 de março de 1998, o que fez dele o carro mais veloz do mundo até ser desbancado, em abril de 2007, pelo Bugatti Veyron.
Se um F1 foi vendido por US$ 15,62 milhões só por ser de um único dono, imaginamos quanto este aqui custará. O preço na Tom Hartley Jnr é "sob consulta", mas certamente ficará acima disso. Além do veículo, o feliz comprador levará também os jogos de malas (ainda embalado), manual do proprietário, caixa de ferramentas, o autógrafo de Gordon Murray na lateral direita do modelo e um relógio TAG Heuer igualmente raro, com o número do chassi do carro gravado em seu mostrador. Também nunca usado. "Sem dúvida, este é um dos automóveis de rua mais importantes a ser colocado à venda e, se preservado, será certamente um dos mais valiosos do mundo nos próximos anos", diz a revenda.
Por nunca ter sido emplacado, este é provavelmente o único McLaren F1 que poderia vir para o Brasil. Só é possível importar carros com mais de 30 anos, como peças de colecionador, ou novos. Por novos deve-se entender um veículo que nunca teve registro em outro país. Milionários brasileiros, habilitem-se. Ou esperem outros 10 anos até conseguir importar um F1. Eventualmente um mais barato do que essa raridade, ainda que, no caso deste McLaren, o passar do tempo tenda a torná-lo ainda mais valioso.