Nesta terça (19), a Ford encerrou um importante capítulo de sua história no Brasil. E deu início a um novo, para toda a indústria automotiva brasileira. O encerramento anunciado foi o da histórica fábrica de São Bernardo do Campo, herdada da Willys Overland em 1968. Com a Ford, ela estava há 51 anos. Se contarmos a Willys, a história da unidade chega a 65 anos, já que ela começou a fabricar ali em 1954. Atualmente, a fábrica fazia apenas caminhões e o New Fiesta. Com o fechamento, a Ford sai do mercado de caminhões e mata o Fiesta de uma vez por todas. O início a que nos referimos é um enxugamento de fábricas ociosas espalhadas pelo Brasil.
Como o colunista Glauco Lucena explicou muito bem na Autoesporte, a fábrica da Ford será apenas a primeira de uma leva. Como já dissemos, uma das maiores candidatas a ir para a terra dos pés juntos é a unidade da GM em São José dos Campos. Atualmente, ela virou um trunfo para a GM negociar com o governo de São Paulo incentivos fiscais, mas o histórico da unidade mostra que, para a GM, o valor está mais em moeda de troca, por conta dos empregos que a unidade gera, do que no histórico ou financeiro. São José dos Campos foi a primeira fábrica da GM, mas só produz hoje a S10 e o TrailBlazer. E, mesmo que tenha investimentos garantidos, não produzirá modelos essenciais da marca por conta do histórico do sindicato dos metalúrgicos da região, que adora uma greve e faz demandas muitas vezes absurdas, como a de participação nos lucros da Chery, que fica na mesma região, em tempos em que a fábrica mal conseguia ficar de pé. Nenhum executivo em sã consciência colocaria em terreno tão instável um produto estratégico à sobrevivência da empresa. Em suma, São José dos Campos pode até escapar do facão agora, mas não resistirá por muito tempo.
No vídeo abaixo, Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul, explica a decisão de fechar São Bernardo do Campo.
Com o anúncio, o antes todo poderoso Sindicato dos Metalúrgicos do ABC ficará apenas com a fábrica da Volkwagen na Anchieta entre as maiores fabricantes de carros do país para suas demandas. Na região estão também a fábrica de caminhões da Mercedes-Benz e a da Scania, mas, como dissemos, são fábricas de caminhões.
Outras empresas, como Honda, Toyota e Hyundai, vivem situações muito mais tranquilas. O problema da Hyundai é não ter capacidade de produzir mais veículos em Piracicaba. A Toyota, que enfrentou problemas em sua fábrica de Sorocaba, agora tem ali dois produtos, o Etios e o Yaris, que garantem boa ocupação. A fábrica de Indaiatuba, que fabrica o Corolla, recebe investimentos para produzir a nova geração do carro. Só a Honda, que construiu a fábrica de Itirapina e demorou a ocupá-la, talvez feche a fábrica de Sumaré, mas o mais provável é que invista lá para produzir o Brio e entrar finalmente no segmento de compactos. Fabricantes mais tradicionais, como Ford, GM, Volkswagen e Fiat, vivem situações diferentes. São elas as principais responsáveis por uma ociosidade de 41% nas fábricas brasileiras. Tem fábrica sobrando. E a da Ford provavelmente é apenas a primeira de muitas a sumirem do mapa.