Quando a VW Amarok foi apresentada, muita gente se perguntou por que ela nunca foi vendida nos EUA, o maior mercado do mundo para picapes. Simples: porque os EUA têm algo chamado de Chicken Tax, um imposto de 25% sobre diversos itens, entre eles picapes médias. Isso inviabiliza a concorrência de qualquer produto deste tipo com os produzidos em território americano. Com o anúncio de uma aliança mundial entre a Ford e a VW, a alemã dá um drible de mestre nessa barreira sem investir um tostão em uma nova fábrica nos EUA. A Ford, por sua vez, diminui seus custos de desenvolvimento e melhora o aproveitamento da produção nas fábricas que já tem nos EUA, mas o grande beneficiado pela aliança parece mesmo ser a Volkswagen.
O acordo poderia ser visto como uma Autolatina global, mas não envolve trocas de ações nem qualquer integração administrativa, como a que houve no Brasil. É apenas o batido "explorar de sinergias". E elas foram claramente anunciadas no Salão de Detroit como "colaboração" no desenvolvimento de picapes médias e vans comerciais, ainda que flerte também com automóveis autônomos, elétricos e serviços de mobilidade, sem entrar em detalhes a respeito disso. Pusemos colaboração está entre aspas porque os papéis já estão claramente definidos: a Ford projetará e construirá picapes médias para as duas empresas, com as primeiras delas chegando ao mercado em 2022. E projetará e construirá vans comerciais grandes, como a Transit, para as duas empresas. E a Volks? Fará uma van urbana...
Fica uma série de dúvidas, como a produção da Amarok na Argentina. As fábricas da Ford e da Volkswagen são vizinhas, ambas em Pacheco. Serão unidas para ampliar a produção da Ranger e de sua derivada da Volkswagen? E os países que produzem vans da Ford e da Volkswagen, como a Transporter, continuarão a ter fábricas? Das duas, uma: ou a Ford está de olho em algo que a Volkswagen tem e que ainda não foi anunciado, como a plataforma MEB, totalmente elétrica, ou quer, como já dissemos, apenas melhorar o índice de ocupação de suas fábricas e dividir com alguém os custos de desenvolvimento de novos produtos. Como a BMW fez com a Toyota no caso do Z4 e do Supra.
Cogitava-se que a VW usaria alguma fábrica da Ford para produzir seus elétricos, mas a alemã já anunciou que investirá US$ 800 milhões em Chattanooga, nos EUA, para isso. A Ford vive um esforço danado para racionalizar sua produção. Reduzirá seu número de plataformas de 9 para 5. Focará em picapes e em SUVs, deixando sedãs de lado. Em suma, tem um grande esforço concentrado em diminuir seus custos de produção, mas isso parece pouco para uma aliança. Se for só isso, não se pode negar que a Ford terá algum benefício, mas quem se dá bem mesmo com isso é a Volkswagen, que ganha pleno acesso ao maior mercado de picapes do mundo com baixíssimo investimento.