A Ford Maverick é um sucesso de vendas nos Estados Unidos a ponto de a fabricante ter de interromper temporariamente a comercialização da linha 2022 para conseguir atender a alta demanda pela picape. Tanto que as concessionárias Ford locais não conseguem manter o modelo em estoque, pois as unidades que chegam às revendas são vendidas quase que imediatamente, quando já não estão reservadas.
Se nos Estados Unidos a Maverick é uma febre, no Brasil a história é bem diferente. Por aqui, a picape compacta-média ainda é uma ilustre desconhecida pelo fato de ter uma estratégia de mercado desfavorável: a começar pelo preço sugerido de R$ 233.310 (junho de 2022), que a coloca numa faixa superior à da Fiat Toro Ultra (parte de R$ 213.390), a versão topo de linha da líder da categoria.
Além disso, a Ford é vendida em versão única (Lariat FX4) movida apenas a gasolina, enquanto a Toro possui versões turboflex e turbodiesel com tração 4x4.
Outro vacilo da Ford Maverick é a ausência de equipamentos de série praticamente triviais em carros de sua faixa de preço. A picape bem que poderia ter as assistências de condução presentes no “primo” Bronco Sport, como controle de cruzeiro adaptativo, alerta de ponto cego, assistente de manutenção em faixa e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros.
Teto solar, carregador de celular por indução e a central multimídia SYNC 3, com interface mais moderna e espelhamento sem fio do celular também seriam muito bem-vindos (a picape é dotada da SYNC 2.5).
Sem opcionais, a Ford Maverick vendida no Brasil traz seis airbags, controles de estabilidade e tração, direção elétrica, freio de estacionamento elétrico, ar-condicionado automático digital de duas zonas, chave presencial, banco do motorista com regulagem elétrica e central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay. Na parte de segurança ainda há frenagem autônoma emergencial e faróis de LED com acendimento e comutação automáticos do facho alto.
Fusion com caçamba
A Maverick compartilha com o Bronco Sport a plataforma oriunda da última geração do Focus. Essa base de automóvel confere à picape uma dinâmica irretocável graças à direção bem calibrada, às suspensões independentes nas quatro rodas e, principalmente, ao conjunto mecânico herdado do sedã grande Fusion.
Sob o capô, a Maverick leva o motor EcoBoost 2.0 turbo com injeção direta a gasolina, que entrega 253 cv de potência e 38,7 kgfm de torque. Para gerenciar essa força, a Ford apostou no câmbio automático de oito marchas e no sistema de tração integral, que também equipavam o Fusion Titanium AWD.
A diferença é que na Maverick a tração integral possui cinco modos de condução, que adaptam os parâmetros de aceleração, câmbio e entrega de torque às rodas de acordo com o tipo e nível de aderência do terreno. A picape ainda conta com o controle de velocidade em descida em pisos escorregadios.
Apesar dos recursos para fazer incursões leves no off-road, a Maverick se mostra mais à vontade no asfalto. A picape de 1.744 kg aproveita os quase 39 kgfm de torque para acelerar com muita disposição. As retomadas de velocidade também são muito espertas, uma vez que o câmbio automático é ágil nas reduções de marchas. No entanto, se a picape tivesse aletas no volante para trocas manuais, essa tarefa seria ainda mais rápida. No geral, a transmissão trabalha com suavidade, priorizando marchas mais altas para o motor consumir menos combustível (na estrada a 120 km/h, o propulsor trabalha a 2.000 rpm).
De acordo com a Ford, a Maverick acelera de 0 a 100 km/h em apenas 7,2 segundos e atinge velocidade máxima de 175 km/h (limitada eletronicamente).
Consumo
Em termos de consumo, a Maverick não pode ser considerada gastona considerando o seu porte e potência: o Inmetro informa 8,8 km/l na cidade e 11,1 km/l na estrada.
Mas, durante os testes, o computador de bordo chegou a informar médias rodoviárias entre 10 km/l e 13 km/l durante uma viagem de 900 km na qual encaramos longos trechos sob chuva forte e com o ar-condicionado ligado 50% do trajeto.
Na cidade, a nossa melhor marca foi de 8 km/l, mas nos constantes congestionamentos da capital paulista o consumo de gasolina variou entre 5 km/l e 6,5 km/l.
Boa de guiar, mas avessa ao trabalho pesado
Diferentemente da Fiat Toro, que tem uma rodagem mais macia e sujeita a inclinações da carroceria em curvas, a Maverick possui um acerto de suspensão mais firme. Essa característica fica evidente ao rodar sobre pisos acidentados, fazendo a picape pular mais que a rival da Fiat.
Por outro lado, esse rodar mais durinho (combinado a tração integral e ao sistema de vetorização de torque) faz com que a Maverick contorne curvas com uma estabilidade exemplar - superior até mesmo à da maioria dos sedãs – sem prejudicar, no entanto, o conforto dos seus ocupantes.
Mas essa dinâmica de carro de passeio cobra o seu preço. Embora a picape tenha uma caçamba pouco maior que a da Toro (943 litros ante 937 litros), ela carrega menos peso que a rival. Enquanto a picape da Ford tem capacidade de carga útil de até 617 kg, a picape da Fiat pode levar entre 750 kg (turboflex) e uma tonelada (turbodiesel), dependendo da motorização.
Soluções criativas
Além de entreter o motorista, a Maverick também trata muito bem os demais ocupantes de sua cabine. Embora tenha cinco lugares, o espaço da cabine é mais indicado para até quatro adultos.
O acabamento, apesar de simples, utiliza plásticos de boa qualidade com diferentes texturas e formas. O puxador das portas, por exemplo, é cortado para que seja possível guardar uma garrafa no porta-objetos. O console central é amplo e possui três grandes nichos para guardar objetos.
Outra solução bastante útil é o alçapão localizado sob o assento do banco traseiro, com espaço para levar duas malas pequenas. Quem viaja atrás ainda pode abrir a janela que dá acesso à caçamba ao toque de um botão – acionado no painel pelo motorista ou passageiro da frente.
O compartimento de carga, por sua vez, conta com protetor plástico e dois porta-objetos que podem servir para guardar ferramentas.
Bem construída, boa de guiar e com desempenho de sobra, a Ford Maverick é um produto que merecia uma destaque maior em nosso mercado. Mas, para isso, a picape importada do México teria de ficar posicionada numa faixa de preços mais próxima à da Fiat Toro – principalmente por ficar devendo itens de série presentes na concorrente.
Para efeito de comparação, no período entre janeiro e maio de 2022, a Fiat Toro vendeu 21.382 unidades ante apenas 511 emplacamentos da Maverick. Diante desses números, a Ford poderia refletir sobre a possibilidade de oferecer versões mais em conta (com tração apenas dianteira, por exemplo) e híbrida para ampliar o volume de vendas de sua boa picape em nosso mercado.
Ficha técnica
Motor: 2.0 turbo, quatro cilindros, injeção direta, a gasolina
Potência: 253 cv a 5.500 rpm
Torque: 38,7 kgfm a 3.000 rpm
Câmbio: automático de 8 marchas
Tração: integral
Comprimento: 5.073 mm
Largura:1.844 mm
Altura: 1.733 mm
Entre-eixos: 3.076 mm
Caçamba: 943 litros
Capacidade de carga útil: 617 kg
Peso em ordem de marcha: 1.744 kg
Consumo (Inmetro): 8,8 km/l na cidade e 11,1 km/l na estrada