O Ford Royale chegou ao Brasil em 1992, no contexto da Autolatina, uma parceria entre Ford e Volkswagen que durou de 1987 a 1996. O modelo era uma perua derivada do Ford Versailles, mas na verdade tratava-se de uma Volkswagen Quantum com mudanças visuais e interiores para parecer um Ford. Essa estratégia visava evitar canibalização interna: a Quantum mantinha a versão de quatro portas e a Royale foi lançada inicialmente com a carroceria de duas portas, em homenagem à antiga Ford Belina que tinha esse formato clássico e vinha sendo produzida até 1991.
A Royale e o Versailles usavam a plataforma VW, fabricados na unidade de São Bernardo do Campo (SP). Os motores eram os conhecidos AP da VW, nas versões 1.8 e 2.0, disponíveis com carburador nas versões de entrada e injeção eletrônica nas mais caras, o que garantia confiabilidade mecânica associada à engenharia alemã.
Lançamento e Estratégia Comercial
No lançamento, a Ford pensou que os consumidores da antiga Belina, gostavam das duas portas, que davam um senso de segurança para as famílias, evitando que crianças abrissem portas traseiras durante o movimento do veículo. Essa estratégia, porém, não conversava com os hábitos dos consumidores brasileiros do início dos anos 1990, quando as famílias preferiam claramente peruas com quatro portas, buscando conforto e praticidade para os passageiros.
Essa decisão resultou em vendas inferiores às da Quantum, já que o mercado valorizava a conveniência do acesso facilitado e as portas traseiras para crianças e idosos. Os custos da parceria e o receio das concessionárias da Volkswagen em lançar a versão Royale quatro portas atrasaram essa evolução.
Evoluções e Versões
A Ford realizou uma leve reestilização do Royale ao longo de sua vida, apresentando uma versão quatro portas somente em 1995, pouco antes do fim da Autolatina, visando alinhar o modelo aos novos padrões europeus da Ford. A versão mais luxuosa, Ghia, ofertava um acabamento mais refinado e equipamentos que não eram encontrados na Quantum, buscando atingir um nicho restrito de mercado.
Embora tivesse qualidades técnicas e conforto, a Royale sofreu pela competição interna da Volkswagen, pelo atraso nas adaptações para as necessidades do público e pelas restrições da rede de concessionárias. Em 1996, o modelo foi descontinuado e seu lugar foi tomado indiretamente pela Ford Mondeo Wagon, um modelo importado e mais moderno.
Vendas e Impacto no Mercado
Embora não existam números oficiais exatos de vendas amplamente divulgados, estima-se que o Ford Royale tenha alcançado um volume modesto durante sua produção de cinco anos, nunca se aproximando do sucesso da Quantum. A baixa aceitação da versão duas portas e a competição com a VW limitavam seu potencial comercial.
Mesmo assim, a Royale teve impacto positivo por manter a presença da Ford no segmento de peruas familiares no Brasil nos anos 1990, oferecendo maior sofisticação em acabamento em relação à Quantum, e ajudou a Ford a aprender mais sobre motores eficientes e sobre os desafios do acabamento na indústria local, graças à influência da tecnologia VW.
Curiosidades
- O nome Royale foi adotado para reforçar a ideia de um carro mais luxuoso que a Quantum, evidenciado na versão Ghia com detalhes exclusivos.
- A escolha inicial da carroceria duas portas foram controversas, a Ford acreditava que isso agradaria os consumidores da Belina, mas essa percepção se mostrou desatualizada.
- Tanto o Royale quanto o Versailles eram montados na fábrica da Volkswagen, deixando claro o intercâmbio total entre as marcas na Autolatina.
- As brigas internas na Autolatina para limitar a oferta da Royale quatro portas estavam ligadas aos interesses das redes de concessionárias, especialmente da Volkswagen, que não queria canibalizar vendas da Quantum.
Seu legado vai além das vendas, ele trouxe aprendizados relativos à engenharia compartilhada, ao acabamento mais refinado e ao posicionamento de mercado. É um símbolo da complexidade das parcerias automotivas e um exemplo didático de como decisões estratégicas de produto podem influenciar diretamente o destino de um modelo.