Se existe uma receita de como criar um SUV compacto de sucesso, a Hyundai é uma das marcas que mais bem a seguiram. Feito a partir da plataforma do Elantra, o Creta é a essência de tudo aquilo que o consumidor brasileiro procura em um utilitário, segmento que virou objeto de desejo do público há alguns anos.
Normalmente, o consumidor que procura por um SUV é movido por três fatores: necessidade, status e prazer. O primeiro se refere ao lado racional da compra, como o espaço da cabine e sua funcionalidade. O segundo está ligado ao valor agreado do carro, seu porte e visual. Já o prazer é o nível de conforto a bordo e até o desempenho do veículo. Ainda que não tenha nenhum destaque exclusivo (o Creta não é o maior do segmento, nem o mais potente ou o mais tecnológico), o Hyundai cumpre muito bem com todos esses requisitos, tanto que já está quase ultrapassando o Jeep Renegade como o segundo SUV compacto preferido do país.
Nós detalharemos a seguir a versão topo de linha do modelo, a Prestige, com motor 2.0. Esta opção, aliás, é a mais vendida do Creta, mesmo partindo dos R$ 100 mil.
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Se o seu lado racional está procurando um carro com bastante espaço interno para aproveitar os finais de semana com a família, bom porta-malas (são 431 litros) e posição elevada de dirigir, o Hyundai Creta cairá como uma luva para você. Cinco ocupantes trafegam com relativo conforto no SUV e a cabine oferece soluções inteligentes de funcionalidade. A versão topo de linha ainda conta com uma central multimídia, com conectividade à moda dos smartphones, e com o motor 2.0 de 166 cv, que vai agradar quem prioriza desempenho.
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Entre os poucos defeitos do Creta, o consumo é o que mais impactará sua vida. Apesar de receber nota A no Inmetro na categoria, o motor 2.0 não é dos mais econômicos. É preciso tratar com delicadeza o acelerador para manter médias acima dos 7 km/l na cidade com etanol.
O que tem de novo em 2017
O Creta foi lançado no final do ano passado. Portanto, as únicas novidades do SUV este ano são as novas versões Pulse Plus 1.6 e Sport 2.0. A primeira reproduz o nível de equipamentos da topo de linha Prestige, mas com o motor menor, enquanto a outra tem um apelo estético esportivo para atrair um público mais descolado ao SUV (ou quem não é fã dos cromados que compõem os detalhes do Prestige).
Dirigindo o Hyundai Creta 2.0 Prestige
Se na frieza dos números o Creta pode não ser o SUV mais destacado entre seus rivais, é ao volante que ele demonstra sua melhor aptidão: a dirigibilidade. O modelo é uma verdadeira referência no quesito no segmento, com um comportamento exemplar em curvas. A carroceria inclina relativamente pouco e a resposta da direção elétrica é rápida. Ele só abre mão de uma suspensão um pouco mais macia para conseguir entregar este nível de dinâmica, mas nada que prejudique em demasia o conforto (os buracos continuam sendo absorvidos bem, com algumas batidas mais secas da suspensão no assoalho).
Os 166 cv e 20,5 kgfm de torque do motor 2.0 são mais do que suficientes para realizar ultrapassagens em rodovias com segurança e trafegar a 120 km/h sem sentir qualquer esforço do carro. Porém, seu comportamento na cidade é um tanto "bipolar". Apesar de ter um trabalho suave, não é raro o câmbio automático de 6 marchas reduzir marcha e subir o giro do motor para além das 3.000 rpm em situações que não era necessária tanta força assim, como ao superar pequenas ladeiras. Além de prejudicar o consumo, a ação também afeta o conforto a bordo, já que, em rotações mais altas, o motor é bastante ruidoso. Um modo de condução "eco" já ajudaria a conter estas respostas abruptas, permitindo explorar melhor o motor em baixas rotações.
Aliás, esta função também ajudaria a conter o consumo do Creta. De acordo com o Inmetro, o SUV percorre 6,9 km/l na cidade e 8,2 km/l em rodovidas quando abastecido com etanol (com gasolina, estes números são 10 km/l e 11,4 km/l, respectivamente). Durante nossa avaliação, obtivemos médias próximas dos 7 km/l, com etanol, mas sempre nos atentando à pressão sobre o pedal direito. Se você abusar do fôlego do motor, o consumo vai cobrar um preço alto.
Um dos pontos positivos a destacar no Creta é a posição de dirigir, facilmente ajustada por meio da coluna variável em profundidade do volante e a boa amplitude de altura do banco. A área envidraçada do SUV, que permite ótima visibilidade, completa as virtudes de dirigibilidade do SUV.
Sacadas inteligentes
A central multimídia blueMedia é um dos destaques do Creta. Com tela touchscreen de 7'', o sistema é intuitivo e tem compatibilidade com os sistemas Apple CarPlay e Android Auto. Mas o que chama atenção mesmo é um item que só o Creta traz nesta faixa de preço entre seus principais concorrentes: ventição do banco do motorista. Por meio de um botão no console central, o motorista pode acionar o recurso em três níveis diferentes de ventilação para resfriar o banco e, acredite, isto faz toda a diferença em dias de muito calor.
Detalhes do Hyundai Creta 2.0 Prestige
Interior
Como antecipamos no início, o Hyundai oferece aquilo que se espera de um SUV: espaço e funcionalidade. Três pessoas conseguem se acomodar no banco traseiro com relativo conforto e bom espaço para as pernas e cabeça (com direito a cinto de três pontos para o passageiro central). Todos os bancos são bastante confortáveis. Ainda há uma saida dedicada de ar-condicionado para a fileira de trás, o que aumenta o nível de comodidade. À frente, o console central oferece um compartimento feito para abrigar o celular, próximo da entrada USB, e o baú central, onde você pode colocar sua carteira. De quebra, ele serve como apoio de braço. Os compartimentos das laterais das portas também são generosos e há quatro porta-copos à disposição dos passageiros. Os bancos de trás são bipartidos, o que facilita o acesso ao bagageiro.
O acabamento da versão é bem feito, com encaixes corretos das peças e design elegante. A versão só merecia mais materiais de toque macio no lugar dos plásticos duros do painel. A opção de cor marrom para alguns detalhes dos paineis e para o revestimento dos bancos é a expressão mais próxima de algo "premium" que a Hyundai têm à disposição para seus carros nacionais.
Exterior
A silhueta do Creta segue uma linha tradicional de SUV, com traços mais retilíneos, desviando da influência fluida da carroceria dos modelos importados da marca. A grade dianteira é grande e robusta e, nesta versão, é toda cromada. As maçanetas e detalhe da tampa do porta-malas também são acabados com cromo, caracterizando o posicionamento mais requintado do modelo na opção Prestige. O conjunto óptico é delineado pelos LEDs de uso diurno.
Equipamentos
A Hyundai não oferece pacotes opcionais de equipamentos para a versão Prestige (com exceção dos acessórios vendidos à parte), por isso tratou de rechear bem o modelo. De série, ele conta com: 6 airbags, controle eletrônico de estabilidade, ar-condicionado automático e digital, direção elétrica, DRL de LED, rodas de liga leve de aro 17, faróis de neblina com função cornering, computador de bordo de TFT, bancos de couro, trio elétrico, monitoramento de pressão dos pneus, assistente de partida em rampa, volante com regulagem de profundidade, controle de cruzeiro, bancos bipartidos, sensor traseiro, acendimento automático dos faróis, sensor de chuva, câmera de ré e central multimídia blueMedia com tela de 7 polegadas sensível ao toque.
Sob o capô
O motor que equipa o Hyundai Creta Prestige é o mesmo 2.0 do ix35. São 4 cilindros em linha, com 4 válvulas para cada um (16V) e duplo comando variável, capazes de gerar 166 cv a 6.200 rpm e 20,5 kgfm a 4.700 rpm com etanol (156 cv e 19,1 kgfm a gasolina). A transmissão que o acompanha é composta por uma caixa automática de 6 marchas e tração dianteira.
Sobre o preço
Contrariando o que é mais comum de observar no mercado, a versão topo de linha do Creta é a mais vendida do crossover. Ela corresponde a mais de 45% das vendas, de acordo com dados da Jato Dynamics. Partindo de R$ 100.990, o Creta Prestige tem um preço competitivo em relação aos rivais em suas opções mais caras (com exceção do HR-V Touring, que é um nível acima da EXL, a topo de linha "regular" do Honda, digamos assim). Se considerarmos as vendas dos três utilitários preferidos do mercado, o Creta é o que tem a relação entre custo e benefício mais atraente, considerando também o Honda HR-V (EXL: R$ 102.900) e o Jeep Renegade flex (Limited: R$ 99.990). Enquanto o Honda possui uma cabine e porta-malas um pouco maior, e o Renegade tem uma lista de equipamentos mais interessante, o Creta contra-ataca com um conjunto mais equilibrado, como afirmamos no início da avaliação, superando ambos em desempenho (e espaço, no caso do Jeep).
Mas não podemos deixar de fora o novo Ford EcoSport, que, além de oferecer itens com maior valor agregado, dispõe de um motor 2.0 mais potente e uma dirigibilidade bem acertada. O rival da Ford só vai ficar devendo -- significativamente -- em espaço, mas vale a menção como forte concorrente, embora seja bem menos emplacado que o Hyundai.