Quando a Fiat apresentou a Toro, em 2015, a meta da companhia era ousada: criar um novo segmento de picapes, capaz de seduzir consumidores de SUV. A aposta gerou desconfiança no início, mas, de acordo com o departamento de branding da companhia, a picape conseguiu, de fato, atrair parte do público de carros de passeio, sobretudo nos grandes centros urbanos, onde as virtudes da Toro se sobressaem. Porém, é difícil convencer quem tem uma picape maior a trocar seu modelo de confiança pela novidade natural de Goaiana, PE, especialmente em regiões onde há forte agronegócio.
De qualquer maneira, a Toro provou ser um fenômeno. Mesmo em meio a um período de retração do mercado (que se arrasta há três anos), o modelo é hoje o comercial leve mais vendido do país, segundo a Fenabrave (federação das concessionárias), com pouco menos de 40 mil unidades vendidas até outubro de 2017. O feito é notável e serve como principal argumento para não subestimar as qualidades da picape, diferentemente de sua rival mais próxima em termos de construção (a Renault Oroch), que não conseguiu cativar o público da mesma maneira.
A avaliação que você lerá a seguir entrará em detalhes sobre os principais quesitos do sucesso da Toro, mas podemos resumi-los em três fatores: design arrebatador, nível de conforto elevado para uma picape e gama com opções variadas de motor e câmbio.
Você gostará da Fiat Toro 2.4 Freedom se...
Se você precisa de caçamba para dar suporte ao seu negócio, a versão 2.4 flex da Toro é capaz de carregar até 750 kg nos 820 litros de volume no compartimento de carga. Esta capacidade é superior à das picapes pequenas e da compacta-média Renault Oroch. E se você não quiser abrir mão de conforto para aliar lazer e trabalho, a picape da Fiat certamente é a opção mais adequada para isso, já que sua dinâmica é muito similar à dos SUVs, mesmo rodando com a caçamba vazia (situação em que as picapes convencionais demonstram mais suscetibilidade à oscilações incômodas ao superar obstáculos da via).
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Para corrigir o desempenho comedido da versão 1.8, a 2.4 adiciona bons 47 cv sob o capô da Toro, mas a solução é acompanhada por um efeito colateral grave: o consumo alto. A picape mal passa dos 10 km/l em rodovias, mesmo abastecida com gasolina, enquanto na cidade a média fica em 5,9 km/l com etanol, segundo o Inmetro.
Seus quase cinco metros de comprimento e diâmetro de giro longo (12,2 m) atrapalham um pouco a convivência com ela em perímetro urbano, onde é corriqueira a necessidade de pequenas manobras em espaços mais curtos.
O que tem de novo em 2017
A Toro ganhou poucas novidades na linha 2018 (lançada no primeiro semestre deste ano). A opção 2.4 Freedom, por exemplo, recebeu monitoramento de pressão dos pneus e novos emblemas na carroceria. Todas as versões passaram a contar de série com capota marítima, volante revestido de couro e indicador de trocas de marcha. Até o final do ano, a gama da picape será complementada com uma versão especial, a Blackjack (apresentada no último Salão do Automóvel de São Paulo), equipada com o motor 2.4 Tigershark.
Dirigindo a Fiat Toro 2.4 Freedom
O principal argumento para a Toro conquistar o público de carros de passeio está ao volante. A arquitetura monobloco, em vez da convencional "cabine sobre chassi" das picapes médias, possibilita maior controle da carroceria em viagens com a caçamba vazia ou carregada, além de atenuar inclinações em curvas. Isto resulta numa diribilidade bastante próxima da que apresenta o Jeep Renegade, com quem compartilha parte da plataforma. Alia-se a essa construção a atenção especial da Fiat à suspensão traseira composta por multibraços (com elementos de borracha extras para absorver melhor os impactos) e a receita para uma dinâmica apurada está completa.
Traduzindo esta teoria para a vida real, significa dizer que, na Toro, os ocupantes não sentem o "balanço" característico das picapes ao trafegarem em centros urbanos, onde há mais incidência de buracos, valetas e lombadas. Há também mais confiança na hora de apontar o modelo em curvas. É raro a picape recorrer ao controle de estabilidade para corrigir sua rota, o que demonstra sua boa firmeza para mantê-la na trajetória certa.
A melhor posição de dirigir, facilmente encontrada por meio dos ajustes de altura do banco e profundidade do volante, é elevada e deixa o motorista confortável o suficiente para suportar longos trajetos a bordo da Toro. Por falar em volante, sua empunhadura é correta e ergonômica, e a direção elétrica é progressiva, com respostas rápidas em velocidades mais altas.
No final das contas, mesmo com seus quase 5 m de comprimento, a Toro conseque disfarçar seu porte com uma dinâmica na mão do condutor. Você só se lembra que está num veículo de grande porte quando for realizar tarefas cotidianas que exigem estacionar em vagas mais apertadas. Aí não há milagres: prepare o braço para fazer três ou quatro correções até encaixar a Toro no espaço.
Quanto ao motor 2.4 Tigershark, como mencionado anteriormente, o acréscimo de potência em relação ao 1.8 E.torQ é nítido, sobretudo no modo Sport. Nesta configuração, o ótimo câmbio automático de 9 marchas não hesita em explorar a boa elasticidade do propulsor retardando o avanço das marchas com trocas rápidas, aproveitando-se dos 186 cv e 24,9 kgfm de torque à disposição do pé direito. Mas, em condições normais, parece que o câmbio prefere trabalhar quase num modo "Eco", entregando a potência da Toro com parcimônia ao diminuir a sensibilidade do acelerador.
O comportamento é justificável. Afinal, a versão 2.4 abusa do consumo. Não é raro obter médias ao redor de míseros 5 km/l na cidade, quando abastecida com etanol, em percurso misto majoritariamente urbano. Em rodovias, a situação até melhora, mas nada que a faça ser remotamente econômica. Portanto, mesmo onde etanol é pouco mais vantajoso que a gasolina, o melhor é apostar no derivado de petróleo para tentar reduzir a velocidade impressionante com a qual o nível de combustível descresce no quadro de instrumentos.
Sacadas inteligentes
É inevitável enaltecer a própria estratégia da Fiat em criar uma picape média-compacta monobloco como uma "grande sacada" da companhia. A decisão foi correta: os números e nossa avaliação comprovam isso. Faz parte do rol de destaques da picape, também, a abertura do tipo "geladeira" da tampa da caçamba, que facilita a vida de quem for carregar e descarregar o compartimento. A segunda entrada USB para os passageiros do banco de trás é outra conveniência interessante da picape, quando equipada com o Kit Road opcional (a exemplo da unidade avaliada).
Detalhes da Fiat Toro 2.4 Freedom
Interior
Como veículo mais caro da Fiat, a empresa tratou de caprichar no acabamento da Toro, sobretudo nesta versão, que conta com partes revestidas de couro onde mais se encostam os braços e mãos. Há algumas rebarbas nos encaixes da peças que deveriam receber mais atenção, mas nada que desqualifique o trabalho do marca. O design é outro ponto positivo, com visual moderno e de fácil localização dos comandos.
Para um aspirante a substituto de SUV, sente-se falta de mais funcionalidade no console central, que oferece apenas um porta-copo. O baú central ajuda a jogar tudo o que você quiser ali dentro, mas os compartimentos das laterais das portas são estreitos, com acesso mais incômodo. O baú abaixo do assento do banco do passageiro é uma solução interessante, mas não serve para abrigar algum item que você precise pegar enquanto dirige (ainda mais se houver alguém sentado ali...).
Atrás, o espaço para pernas dos ocupantes é razoável e os bancos são bastante confortáveis, ainda que tenham o encosto muito vertical (mal de picapes). Três pessoas ali viajam com conforto mediano, mas dispõem de cintos de três pontos.
Exterior
O design da Toro é uma das virtudes mais evidentes da picape. A Fiat trouxe uma linguagem muito mais moderna e ousada do que qualquer concorrente, que deverá manter o modelo como referência neste quesito por um bom tempo. A preocupação é que, por ser até um pouco futurista, o visual fique datado mais rápido.
A grade dianteira e faróis grandes, mais quadrados, transmitem a robustez esperada em uma picape, enquanto o conjunto óptico de LED extremamente afilado, seguindo a curvatura do capô, dá o tom moderno da Toro. As rodas de aro 17 (opcionais nesta versão) são elegantes e as lanternas têm uma identidade própria, que ajuda a distinguir a picape de outros modelos do segmento.
Equipamentos
A versão Freedom 2.4 já vem bem equipada de série com control,e de estabilidade, ar-condicionado, computador de bordo digital com tela de 3,5 polegadas, direção elétrica, assistente de partida em rampa, controlador de velocidade, rádio Connect com entrada USB e Bluetooth, sensor traseiro, stop-start, trio elétrico, volante com ajuste de profundidade, monitoramento de pressão dos pneus, ganchos Isofix e capota marítima. Com o Kit Road opcional, adiciona-se climatizador de duas zonas, rodas de liga leve de aro 17, câmera de ré, central multimídia Uconnect com tela de 5 polegadas, 6 alto-falantes, sensor de chuva, acendimento automático dos faróis, retrovisor interno eletrocrômico, duas tomadas de 12V e segunda entrada USB.
Sob o capô
O motor 2.4 16V Tigershark rende 186 cv de potência a 6.250 rpm com etanol e 176 cv a gasolina. O torque máximo com etanol é de 24,9 kgfm a 4.000 rpm, enquanto a gasolina são 23,5 kgfm. O câmbio é o automático de 9 marchas e a tração, dianteira. Ele dispensa o tanquinho de gasolina para partidas a frio e dispõe da tecnologia MultiAir da Fiat, uma complexa construção do cabeçote que utiliza atuadores hidráulicos para comandar as válvulas de admissão.
Sobre o preço
A versão 2.4 Freedom da Toro parte de R$ 100.270. Se olharmos apenas para picapes, ela está isolada no mercado, já que só se aproxima de versões estritamente comerciais dos modelos médios e está bem acima da Renault Oroch. Mas, se a intenção é atrair consumidores de carros de passeio, podemos colocar a Toro como potencial concorrente de SUVs médios, como o Jeep Compass (R$ 107.990 na versão Sport) e Hyundai ix35 (R$ 109.050 na versão GL). Se o público não se importar com a caçamba ou o porte da picape, a Toro tem uma lista de equipamentos e refinamento mais interessante que a do sulcoreano (além de ser um projeto mais novo e mais moderno: o ix35 é a segunda geração do velho Tucson, que já está em sua terceira geração, vendida acima de R$ 130 mil).
A comparação com o Compass é mais complicada para a picape, porque ele conta com todos os equipamentos da Toro Freedom 2.4, incluindo os opcionais, de série, num pacote mais premium. Os dois só se equivalem em consumo, uma vez que o SUV também gosta de frequentar os postos de combustível.
Outro fator que pode desanimar um interessado nesta versão da Toro é que ela corresponde a menos de 10% do mix de vendas da picape. Em contrapartida, sua desvalorização no mercado, segundo a nossa análise aqui na KBB, foi de somente 4% em um ano. Devido à escassez de ofertas, os proprietários conseguem pedir valores mais altos. Isso pode significar duas coisas: que é difícil a Fiat vender a Toro 2.4. E que, se vender, você perderá menos dinheiro.
FICHA TÉCNICA
Modelo | Fiat Toro 2.4 Freedom |
Motor | 2.4, 16V, dianteiro, transversal |
Potência | E: 186 cv a 6.250 rpm | G: 174 cv a 6.250 rpm |
Torque | E: 24,9 kgfm a 4.000 rpm | G: 23,5 kgfm a 4.000 rpm |
Câmbio | Automático, 9 marchas |
Tração | Dianteira |
Freios (d/t) | Discos/tambor |
Suspensão (d/t) | McPherson/multibraço |
Dimensões (C/L/A) | 4,91 m / 1,84 m / 1,68 m |
Entre-eixos | 2,99 m |
Peso | 1.704 kg |
Caçamba | 820 litros |