Quando a Fiat lançou o Argo no Brasil, a missão da novidade era clara: rivalizar com Chevrolet Onix, Hyundai HB20 e Ford Ka. Ou seja, o hatch é a principal arma da marca para retomar sua liderança no volume de vendas de automóveis no Brasil, posto perdido em 2015 -- correndo risco de fechar este ano na mera 5ª colocação. No entanto, depois de quatro meses nas lojas, o Argo ainda não conseguiu cativar o público: foram 13.163 unidades vendidas até setembro, que lhe rendem um longíquo 34º lugar no ranking da Fenabrave (federação das concessionárias). Talvez o preço e a ausência de itens importantes no conjunto de série da versão Drive 1.3 (a principal, segundo a Fiat) sejam os grandes obstáculos dele, que também sofre com um visual que divide opiniões.
Mas, se mercadologicamente o Argo pode vacilar, como produto ele tem qualidades de sobra para conquistar o interessado que realizar um test-drive. A plataforma derivada do Punto ficou mais espaçosa, o motor Firefly não decepciona na hora de acelerar e de consumir combustível com parcimônia e a dinâmica do carro é sensivelmente superior ao que estamos acostumados nos carros da Fiat (com exceção da Toro, a referência neste quesito). Com estas virtudes, o Argo certamente se credencia como alternativa aos queridinhos populares, especialmente na equilibrada versão Drive 1.3, que detalharemos nesta avaliação.
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O Argo possui qualidades variadas. Desde a posição de dirigir confortável e leveza da direção na cidade até espaço para levar passageiros com conforto atrás. Tem também um porta-malas de 300 litros (bom patamar para a categoria). Com isso, o hatch consegue atender a qualquer necessidade do seu público-alvo: solteiros ou casais jovens ou com apenas um filho que buscam um carro versátil para o dia a dia e com razoável nível de conforto para pequenas viagens. De quebra, dentro deste grupo mais genérico, ele ainda recebe pontos por quem aprecia uma dirigibilidade mais afiada, desempenho e conectividade, uma vez que a bela tela de 7 polegadas de seu sistema multimídia é compatível com Apple CarPlay e Android Auto.
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Ao descobrir que rodas de liga leve, faróis de neblina e retrovisores elétricos são opcionais na versão Drive 1.3, e que controle de estabilidade e assistente de partida em rampa nem fazem parte do portfólio da versão (só existem a partir da GSR, a automatizada), a relação custo-benefício do Argo fica bastante prejudicada.
O que tem de novo em 2017
O Argo foi lançado em 2017, portanto tudo nele é inédito. A sua plataforma é derivada da MP1, que dava origem ao Punto, mas que agora ostenta materiais mais nobres, como aços de alta e ultra alta resistência no chassi, o que resulta em uma melhora de 7% na rigidez torcional da arquitetura se comparada à do hatch anterior. O modelo traz a abordagem visual apresentada pelo Mobi, sobretudo na frente, mas bebe na fonte de inspiração do Tipo europeu para entregar um estilo atraente e controverso ao mesmo tempo. Entre seus principais atributos, a moderna e eficiente família de motores Firefly e a central multimídia Uconnect são destaques, bem como o retorno da sigla HGT para designar as versões esportivas equipadas com motor 1.8 E.torQ Evo de 139 cv.
Dirigindo o Fiat Argo Drive 1.3
O Argo é um carro muito fácil de conviver. A posição de dirigir, embora até merecesse um ajuste de profundidade do volante, é correta e confortável (há ajuste de altura para o banco do motorista e para o volante). O nível de assistência da direção a deixa bastante leve para o uso urbano, mas é possível notar sua progressividade em velocidades mais altas, tornando-a levemente mais pesada, com respostas rápidas. Um ponto que merece ressalva no volante é sua empunhadura, que merecia uma pegada mais anatômica.
Duas características surpreendem ao guiar o Argo. A primeira delas é a disposição do motor 1.3 Firefly. Capaz de gerar até 109 cv e 14,2 kgfm de torque com etanol, o propulsor mostra fôlego suficiente para atender às expectativas de um consumidor mais exigente. Ainda que o hatch pese cerca de 100 kg a mais que seus rivais (são 1.140 kg), a entrega rápida do pico de torque (às 3.500 rpm) faz com que ele tenha ótima elasticidade mesmo em rotações mais baixas até atingir a potência máxima em 6.250 rpm. As marchas com relações mais longas evidenciam este comportamento esperto do modelo, que não raro consegue superar obstáculos como lombadas mais largas em terceira marcha sem a necessidade de reduzir para recuperar o embalo. A sensação de agilidade seria ainda maior se o curso do acelerador fosse um pouco mais curto.
Para ser interessante em desempenho, o Argo não abdica de ser econômico. Na verdade, segundo o Inmetro, o carro é o que menos consome combustível entre Onix, HB20 e Ka, com nota A na categoria e no ranking geral do órgão, obtendo média de 9,2 km/l na cidade e 10,2 km/l em rodovias, com etanol (a gasolina, são 12,9 km/l e 14,3 km/l, respectivamente). Na nossa avaliação, após mais de 150 km rodados, o computador de bordo apontava média de 8,5 km/l com etanol, em percurso misto.
O outro destaque do Argo é a sua dinâmica. O hatch não reproduz o conjunto "mole" de suspensões característico dos outros modelos populares da Fiat. O sistema transmite uma sensação de mais robustez, que contribui para sua estabilidade e controle da inclinação da carroceria em curvas, bem como a transferência de peso entre os eixos durante frenagens, considerando o padrão da categoria. Com isso, fazer curvas em velocidades mais altas é um desafio superado com surpreendente facilidade pelo Argo.
Apesar de a Fiat ter destacado o isolamento acústico da plataforma do Argo, notamos, ao dirigi-lo com os vidros fechados e sem música que ele é, na verdade, estranhamente barulhento. Há falta de refino neste aspecto e o motorista acaba ouvindo os ruídos do acoplamento da embreagem, dos longos engates do câmbio, do combustível balançando no tanque (em frenagens ligeiramente mais bruscas), do motor em altas velocidades e, pasme, até da fricção das pastilhas de freio. É claro que nada disso é ensurdecedor (na verdade, só o motor é capaz de incomodar a 120 km/h), mas vale o registro.
Sacadas inteligentes
O Argo inova ao trazer a tecnologia stop-start para o segmento, uma vez que nenhum de seus principais concorrentes conta com o recurso. Sua atuação às vezes atrapalha o motorista, já que, sendo manual, ele depende de o carro estar em neutro para funcionar. Pode haver situações em que você não esteja esperando o motor desligar. Apesar disso, ele é um dos responsáveis em dar boas médias de consumo ao hatchback. Tanto no Inmetro quanto na vida real.
A central multimídia Uconnect é outra sacada que vale mencionar. Além do visual chamativo, sua interface é bastante intuitiva. O sistema é completo, com menus de mídia, configurações do veículo, informações da viagem e até bússola.
Detalhes do Fiat Argo Drive 1.3
Interior
Apesar de ser toda revestida de plástico rígido (com exceção dos apoios das portas, que têm tecido), a cabine do Argo esbanja um visual bastante moderno e atraente. Os materiais são charmosos e caem bem com o DNA italiano da marca. É uma pena que, ao menos na unidade avaliada, tenhamos encontrado algumas falhas de encaixe das peças, no painel (acima do quadro de instrumentos) e nas maçanetas, que exibiam folgas bem aparentes. Vale ressaltar, também, que plásticos lisos tendem a ser riscados mais facilmente, exigindo atenção redobrada do proprietário para evitar ranhuras indesejadas.
Quanto à funcionalidade, o compartimento abaixo do console central abriga o smartphone de maneira adequada quando conectado à entrada USB ao lado. Há dois porta-copos centrais e nas portas. Para os passageiros de trás, o destaque recai na porta USB adicional, entre os bancos dianteiros (solução que deve ser muito bem-vinda para quem usa o carro profissionalmente). O espaço ali é confortável, com boa distância para pernas e cabeça (são 2,52 m de distância entre-eixos). Os ocupantes também se aproveitam das alças de segurança acima das janelas e de um porta-copo central. Só sentimos falta de bancos bipartidos para facilitar o acesso ao porta-malas, que tem 300 litros de capacidade.
O computador de bordo da versão Drive 1.3 merece destaque à parte. É bem completo e fácil de navegar. A tela de TFT de 3,5 polegadas traz velocímetro digital, informações sobre a bateria, configurações do veículo, consumo instantâneo e, obviamente, dados da viagem (trip A e B). O que destoa do ambiente moderno que a Fiat conseguiu criar para o Argo (considerando as duas telas digitais e o design fluido) são os comandos do ar-condionado, simples demais, embora bastante acessíveis à mão do condutor.
Exterior
Como citamos anteriormente, o visual do Argo reflete a nova abordagem visual da Fiat, que estreou com o Mobi para os modelos menores. A grade dianteira segue o formato visto no pequenino, enquanto os faróis, vistos de frente, tentam emular a silhueta vista na Toro. Mas a grande influência do hatch vem da Europa, com o Tipo. O capô e principalmente a traseira são instantaneamente conectados ao modelo do vendido no Velho Continente. Aliás, as lanternas são os pontos mais marcantes do Argo, com visual bem estilizado. O logo "FIAT" avantajado no porta-malas é outra semelhança com a picape.
Equipamentos
A versão Drive 1.3 do Argo já vem de série com direção elétrica, ar-condicionado, central multimídia Uconnect, stop-start, computador de bordo digital com tela de 3,5 polegadas, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, duas entradas USB, ganchos Isofix, cintos de três pontos atrás, banco do motorista e volante com ajuste de altura e volante multifuncional
Sob o capô
O motor 1.3 Firefly faz parte da família global de motores lançada pela Fiat em 2016. Ele gera 109 cv de potência a 6.250 rpm e 14,2 kgfm de torque a 3.500 rpm, abastecido com etanol, e 101 cv a 6.000 rpm e 13,7 kgfm com gasolina. Com 13,2:1 de taxa de compressão (a mais alta do segmento), duas válvulas por cilindro (8V) e apenas um comando (por corrente), o motor consegue reproduzir parte do ciclo Miller em baixas rotações para reaproveitar os gases queimados na câmara de combustão, a fim de reduzir as perdas por bombeamento e dar maior eficiência. Bloco e cabeçote são feitos de alumínio e ele dispensa o tanquinho de gasolina devido à tecnologia de aquecimento dos bicos injetores.
Sobre o preço
Partindo de R$ 53.900, o Fiat Argo Drive 1.3 custa um pouco mais do que as versões intermediárias de Chevrolet Onix 1.4 (LT, R$ 51.350) e Hyundai HB20 1.6 (Comfort Plus, R$ 52.880), mas é ligeiramente mais barato do que o Ford Ka 1.5 em sua versão topo de linha SEL (de R$ 54.390, que é a equivalente à Drive do Argo). Ele traz um conjunto de equipamentos de série bem semelhante ao dos rivais. Os quatro modelos se "anulam" ao oferecer itens que não fazem parte da lista de série do concorrente, como o sensor traseiro do Onix e os retrovisores elétricos do HB20. Quem se distancia um pouco mais dos demais é o Ka, que só dispensa o sensor de estacionamento, mas é o único a contar com controle de estabilidade eletrônico e assistente de partida em rampa. Vale lembrar que o modelo da Ford, assim como o da Chevrolet, foram recentemente reprovados nos testes do Latin NCAP. Testes nos quais o Renault Kwid, bem mais barato, conseguiu 3 estrelas. De todo modo, é aí que entra o "vacilo" da Fiat citado no começo da avaliação.
A versão GSR (automatizada) do Argo Drive 1.3 possui ESC e hill holder em seu portfólio, mas a companhia não os dispõem nem como opcionais para o manual. Com isso, a marca perde uma oportunidade de tornar a relação custo-benefício do modelo mais vantajosa. Bancos bipartidos e vidros elétricos traseiros também são "pênaltis" que não fazem muito sentido para o Argo manual, já que ele tem a árdua missão de alavancar a Fiat. Para equipá-lo exatamente como a unidade avaliada pela KBB, o consumidor gastaria R$ 1.200 com o Kit Convenience (retrovisores elétricos e vidros elétricos traseiros), R$ 1.900 com o Kit Stile (faróis de neblina e rodas de liga leve de aro 15) e R$ 1.400 com o Kit Parking (sensor traseiro e câmera de ré), totalizando R$ 58.400, ou seja, bem acima do valor pedido pela Ford para o Ka, que já traz tudo isso de série. Como o Argo ainda não foi testado pelo Latin NCAP, ele não pode nem argumentar que é mais seguro. Só que oferece menos itens pelo que o consumidor paga por ele.
Ficha técnica
Modelo | Fiat Argo Drive 1.3 |
Motor | 1.3, 8V, tricilíndrico, dianteiro, transversal |
Potência | E: 109 cv a 6.250 rpm | G: 101 cv a 6.000 rpm |
Torque | E: 14,2 kgfm | G: 13,7 kgfm a 3.500 rpm |
Câmbio | Manual, 5 marchas |
Tração | Dianteira |
Freios (d/t) | Discos ventilados / tambores |
Suspensão (d/t) | McPherson / eixo de torção |
Dimensões (C/L/A) | 4,0 m / 1,72 m / 1,50 m |
Entre-eixos | 2,52 m |
Peso | 1.140 kg |
Porta-malas | 300 litros |