Max Mosley era um nome conhecido na época em que Ayrton Senna morreu. Ele havia acabado de derrotar Jean-Marie Balestre, inimigo praticamente declarado do tricampeão brasileiro, para a presidência da FISA (Fédération Internationale du Sport Automobile), posteriormente unificada com a FIA (Federação Internacional de Automobilismo). E ficou sensibilizado não só com a morte de Senna em 1994, mas também com a do piloto austríaco Roland Ratzenberger, ambas no Grande Prêmio de San Marino. Foi nessa época que Mosley, posteriormente envolvido em um escândalo sexual e acusado de nazista, se reuniu com Sid Watkins, o médico que atendeu Senna ainda na pista, para pesquisarem e melhorarem a segurança dos pilotos nas competições. "O Euro NCAP nasceu de descobrirmos, depois de pesquisar sobre segurança na F1, que nada havia sido feito em relação a isso na Europa. Pensamos em perguntar aos governos, já que eles deveriam estar fazendo um tremendo trabalho sobre os carros de passeio, e descobrimos que nada havia sido feito desde 1974", diz o controverso ex-chefão da FIA e do Euro NCAP no vídeo abaixo. Um vídeo que mostra o nível da evolução na segurança viária de 1998 até os dias de hoje. São 20 anos que separam a chance de sobreviver da certeza de morrer, algo de que dão testemunho dois Ford Fiesta: um fabricado em 1998 e outro em 2018.
Já mostramos aqui na KBB que carros antigos oferecem muito menos proteção do que os modernos, contrariando a crença popular (e equivocada) de que carros de "lataria grossa" são mais seguros. A reportagem também mostrava a importância de conservar bem o veículo, com manutenções regulares. Não só para a parte mecânica, mas também para a estrutural. Só que não basta conservar bem o automóvel. É preciso que ele tenha sido projetado para proteger seus ocupantes, como mostra o vídeo abaixo:
A certa altura, Kris Peeters, vice primeiro ministro da Bélgica, comenta que o Euro NCAP ajudou a salvar 78 mil vidas ao longo dos últimos 20 anos. David Ward, secretário-geral do Global NCAP, mostra o porquê de isso ter acontecido. Os dois Fiesta, o fabricado em 1998 e o de 2018, batem de frente, no chamado offset frontal. Enquanto o Fiesta 1998 tem uma invasão de cabine, e seus passageiros provavelmente morreriam na batida, o de 2018, ainda de uma geração anterior à atualmente vendida na Europa, está com a cabine íntegra e apenas com um trincado no para-brisa. Trocando em miúdos, do Fiesta mais novo os passageiros sairiam andando, ainda que meio atordoados. Do Fiesta 1998, ninguém sairia. Os corpos é que teriam de ser retirados, provavelmente com dificuldades, como já mostramos em um vídeo feito após um teste do Latin NCAP.
Max Mosley finaliza o vídeo dizendo que o Euro NCAP foi combatido no começo. Os fabricantes diziam que segurança não vendia. Atualmente, segurança é um fator de decisão fundamental na compra dos carros europeus, o que mostra que o trabalho da entidade não salvou apenas vidas, mas também deu às marcas de carros mais um argumento forte de vendas. Algo que o Latin NCAP ajudou a começar a introduzir no Brasil e em países de nossa região. Sob ataques parecidos com os sofridos pelo Euro NCAP pouco após sua fundação. E que revelou os modelos nota 0 vendidos por aqui, os que têm menos pontos de solda, os que têm equipamentos retirados para custar menos. Um quadro que talvez o Rota 2030 também ajude a modificar. Quem poderia dizer que foi Ayrton Senna, tristemente, que deu início a essa preocupação com segurança viária? Pode-se criticar Mosley por uma série de coisas, mas ele tem razão em algo: "Na F1, posso salvar uma vida a cada 5 anos, mas, quando falamos em segurança viária, falamos em milhares de vidas". Que essas e muitas mais sejam poupadas.