Quando a Bosch anunciou que havia conseguido reduzir drasticamente as emissões de óxidos de nitrogênio, os NOx, dos motores diesel apenas com ajustes, a notícia pareceu boa demais para ser verdade. Afinal, a fornecedora não revelou nenhuma solução técnica nova. Teria feito tudo apenas com o que os modelos atuais já têm. O que é verdade, mas não é exatamente correto. Ela fez os ajustes com o que há de mais moderno à disposição hoje em dia em termos de motorização diesel.
Um veículo como os Volkswagen envolvidos no Dieselgate jamais poderia aproveitar a nova tecnologia. Isso porque nenhum deles tinha nem sequer o SCR (Selective Catalytic Reduction, ou Redução Catalítica Seletiva). Foi justamente de seu uso, que exige ARLA (Agente Redutor Liquido de Óxido de Nitrogênio Automotivo), decomposto em amônia, que a marca alemã se gabava de não precisar para atender às normas americanas. Mas precisava: a fraude com o software só fingia nos testes que esses sistemas não eram necessários. A nova tecnologia da Bosch usa não apenas um SCR, mas dois. E também o DOC (Diesel Oxidation Catalyst, ou Catalisador de Oxidação para Diesel).
O primeiro sistema SCR vem, como no vídeo, bem depois do DOC, que pega a maior parte do calor da combustão. Muito aquecido, ele também ajuda o SCR a começar a atuar mais rapidamente. Isso ajuda na fase fria do motor, no qual muitas das emissões de óxidos de nitrogênio acontecem. O "x" da questão, aqui, é que um SCR muito aquecido não armazena amônia, necessária à quebra dos NOx. Por isso o uso de dois deles. Quando o primeiro SCR começa a se aquecer, é ele que elimina os óxidos de nitrogênio. Muito quente, ele deixa essa tarefa para o SCR seguinte, que armazena a amônia em seu lugar.
O gerenciamento térmico, como se vê, é o que realizou a "mágica", permitindo uma atuação mais constante dos SCR. Também contribui para a redução de NOx um turbo de dois estágios. O primeiro estágio, com a ajuda de recirculação dos gases, ajuda o primeiro SCR a se aquecer ainda mais rapidamente. É o ajuste fino de todos estes componentes que deu à Bosch o resultado que ela pretendia. Mas só em modelos que dispõe do máximo de tecnologia no tratamento de gases do motor diesel, como se pode notar. O que ainda faz dos motores diesel elementos mais caros e sofisticados do que os congêneres a gasolina.
Nesta terça (8), a Mercedes-Benz anunciou que seus novos motores diesel, os OM 654, OM 656 e OM 608, contam com um novo sistema de tratamento de gases compacto que fica próximo do motor (para aquecer mais rápido) e múltiplos dispositivos de recirculação de gases (os EGR) de alta e baixa pressão. Com isso, o Classe A ganha pela primeira vez o sistema SCR. As emissões de NOx, com isso, ficam entre 40 mg/km e 60 mg/km, muito abaixo também do limite legal de 120 mg/km para 2020. Não se sabe se esse anúncio tem alguma relação com o da Bosch, mas é provável que seja um desenvolvimento da própria fabricante alemã, que bate pesado no apoio ao motor diesel. Tem até um site para defendê-lo como caminho viável para a redução de CO2. Se alguém está brava com o Dieselgate, deve ser a Mercedes-Benz...