Um dia depois da assinatura do Rota 2030 pelo governo, a Anfavea resolveu colocar a bola no chão diante dos números do mês de junho. Ainda que os licenciamentos de veículos novos tenham crescido 14,4% no primeiro semestre, junho teve crescimento de apenas 3,6% em relação a junho de 2017 e os mesmos números de maio, sem variações. Como a entidade espera que o segundo semestre de 2018 não tenha a mesma força do primeiro, ela preferiu conservar a previsão de crescimento de 11,7% para 2018.
Outros sinais de alerta, talvez ainda como reflexo da greve dos caminhoneiros, vieram das exportações. Elas caíram 4,4% comparadas a junho do ano passado. Até foram melhores que as de maio, com aumento de 6,8%, mas o primeiro semestre foi apenas 0,5% superior. Os únicos números de encher os olhos vieram da produção. Eles foram 20,7% melhores do que os de maio e 21,1% melhores do que os de junho do ano passado. No acumulado dos 6 primeiros meses de 2018, o crescimento em relação ao mesmo período do ano passado foi de 13,6%.
Rota 2030
A coletiva de imprensa não teve como fugir da maior conquista recente da entidade: a aprovação do Rota 2030. "O programa começa agora. Iniciamos uma visão de longo prazo para a indústria automotiva", disse Antonio Megale, presidente da entidade, sobre a assinatura ser apenas o pontapé inicial. Um exemplo é a mudança da tributação tradicional de carros com motor a combustão, atualmente por cilindrada. A de veículos híbridos ou elétricos será por eficiência energética, algo que a Anfavea defende que se torne padrão. "Motores comuns continuam tributados por cilindrada. Se houver mudança, será na segunda etapa do Rota. Os que pagarão menor IPI serão os mais eficientes e mais leves, enquanto pagarão mais os menos eficientes e mais pesados." As novas formas de tributar elétricos e híbridos terão de respeitar uma noventena e só passarão a valer em novembro deste ano.
Questionado sobre eventuais dificuldades de aprovar no Congresso a Medida Provisório do Setor Automotivo, Megale brincou com os repórteres. "Deixem a gente tomar fôlego. Ainda estamos comemorando a aprovação do Rota!". E completou: "Não tenho dúvida de que a MP será aprovada. Recebemos muito apoio no Congresso à aprovação do programa, que pode até ser aperfeiçoado por alguns parlamentares".
Aproveitando outra pergunta, o presidente da Anfavea explicou por que a MP é mais ampla do que apenas o programa. "O Rota 2030 será opcional para empresas que queiram investir em pesquisa e desenvolvimento. Quem entrar terá compromissos e seus investimentos terão de ser comprovados e auditados. Só poderão ter esse crédito em impostos aqueles que investirem em tecnologia. Os dispêndios em pesquisa e desenvolvimento podemos começar a contabilizar agora, mas só poderemos usar no ano que vem. De todo modo, a meta corporativa de redução de consumo é um compromisso para vender carros no Brasil. Vale para nacional ou importado e exige uma redução entre 10% e 12% até 2023", disse Megale.
Houve também quem quisesse saber se o MP do Setor Automotivo não seria uma forma de ter redução em impostos. "Simplificação tributária e desoneração são coisas que todos os brasileiros desejam. Ela está na agenda de muitos presidenciáveis", concluiu o executivo.