Dizem que, em toda história, existe a versão de uma parte, a versão da outra e a verdade. É o que a história de Carlos Ghosn, preso no Japão desde novembro, parece confirmar a cada novo capítulo. Depois que a Renault confirmou a renúncia de Carlos Ghosn sem nem sequer citar seu nome, uma atitude fria considerando como a empresa vinha apoiando seu CEO até aquela altura, um dos motivos para isso acaba de surgir. Em uma auditoria interna iniciada em 23 de novembro, poucos dias depois da prisão de Ghosn, a Renault descobriu que pagou 50.000 € (pouco mais de R$ 200 mil) pelo segundo casamento de Ghosn, em 2016, com Carole Nahas, que também comemorou seus 50 anos na ocasião. Detalhe: o casamento foi no Palácio de Versalhes. A casa do rei Luís XVI até ele perder a cabeça com a Revolução Francesa.
O "mimo" que nem a Renault sabia que havia pagado foi revelado pelo jornal francês Le Figaro. E dá novas nuances ao caso. Não só porque a prisão tem, sim, cheiro de motim de executivos pressionados por acionistas que se recusam a ver a Nissan sob controle formal da Renault, mas porque o executivo talvez tenha pesado mesmo a mão em benefícios a si próprio. Algo que um e-mail de resposta do advogado de Ghosn, Jean-Yves Leborgne, quase corrobora. "O espaço de eventos no Palácio de Versalhes foi cedido a ele sem custos, e o sr. Ghosn não sabia que o uso do espaço seria cobrado da cota de uso da Renault. Carlos Ghosn pagou por todas as despesas de seu casamento", disse o causídico em resposta à Reuters. Mesmo, doutor? Na faixa? Conta outra...
Pouco antes do casamento de Ghosn, a Renault havia se comprometido a bancar reformas no palácio no valor de 2,3 milhões € em troca de uma cota de 575.000 €, ou 25% deste valor, para eventos da marca. O casamento de Ghosn foi cobrado desse saldo. Na quinta (7), a Renault divulgou que "o sr. Ghosn recebeu um benefício pessoal de 50.000 € sob os termos de um contrato de patrocínio com o Palácio de Versalhes" e que a companhia "decidiu levar essas descobertas à atenção das autoridades judiciais". Em suma, Ghosn deve ser processado também pela Renault.
Acreditar que fazer um evento em um dos lugares mais luxuosos e caros do mundo sairia de graça é de uma ingenuidade inconcebível para qualquer mortal. Vinda de um executivo graduado como Ghosn, ela soa a explicação furadíssima. Sinal de que podem surgir muitas novas acusações contra ele. E, agora, de fonte insuspeita: a empresa que lhe deu a missão de controlar formal e legalmente a Nissan.