A Renault divulgou há pouco um comunicado de seu conselho de administração que confirma a renúncia de Carlos Ghosn à presidência e ao cargo de CEO na fabricante francesa. O dado curioso do comunicado é que Ghosn não é nem sequer citado nominalmente pela empresa, que se refere a ele apenas como "atual presidente e diretor executivo". Um sinal forte de que a Aliança, como é chamada a parceria entre a Renault e a Nissan, anda seriamente a perigo. Além de não citar Ghosn, a Renault não agradece ao executivo por toda a sua história no comando da empresa, como é costume nos casos de aposentadoria, por exemplo. Ela apenas "saúda a história da Aliança". Provavelmente por receio de que, sem Ghosn, e com os acionistas da Nissan desembainhando suas katanas, o melhor seja por panos quentes em toda a situação.
A derrocada de Ghosn é largamente creditada a um motim da Nissan contra o plano da Renault de absorver a fabricante japonesa. A coisa toda era colocada como uma fusão, mas a Nissan resistia bravamente à ideia. Em boa medida porque a Renault é controlada pelo governo francês. A Nissan, sendo uma das joias da indústria japonesa, deve ter sido apoiada em suas pretensões de continuar independente não só por seus acionistas, mas também pelo governo japonês, que tem negado a Ghosn todos os pedidos de liberdade condicional. Talvez a renúncia da Renault seja um passo importante do executivo na direção de aguardar seu julgamento em liberdade. Sem vínculos com a fabricante francesa e sem representar ameaça, ele deve sair da cana em breve.
Leia abaixo a íntegra do comunicado da marca:
"Boulogne-Billancourt, 24 de janeiro de 2019 - O Conselho de Administração da Renault se reuniu em 24 de janeiro de 2019 às 10:00 sob a presidência do Sr. Philippe Lagayette, Diretor Sênior.
O conselho tomou nota da renúncia de seu atual presidente e diretor executivo. Ele saúda a história da Aliança, que permitiu que ela se tornasse um dos principais fabricantes de automóveis do mundo.
O Conselho de Administração decidiu fornecer à Renault uma nova governança e, nesta ocasião, estabelecer uma separação das funções de Presidente do Conselho e Diretor-Presidente.
Além de todos os deveres normalmente assumidos pelo Presidente do Conselho, o novo Presidente do Conselho de Administração da Renault avaliará e, se necessário, mudará a governança da Renault para incluir a transição para a nova estrutura. Ele apresentará suas propostas sobre a evolução da governança ao Conselho de Administração antes da próxima assembléia geral de acionistas.
Além disso, o Conselho de Administração da Renault deseja supervisionar ativamente o funcionamento da Aliança e decide confiar ao seu Presidente total responsabilidade pela direção da Aliança em nome da Renault, em articulação com o Diretor Executivo.
Nesta capacidade, o Presidente do Conselho de Administração da Renault será o principal interlocutor do parceiro japonês e outros parceiros da Aliança para qualquer discussão sobre a organização e evolução da Aliança. Ele proporá ao Conselho de Administração qualquer novo acordo de Aliança que considere útil para o futuro da Renault. Será o principal representante da Renault nos órgãos da Aliança e da Nissan, quando a Renault tiver direito de proposta.
O Diretor Geral coordenará para a empresa as atividades da Aliança na área operacional sob a autoridade do Presidente.
O conselho cooptou Jean-Dominique Senard como novo diretor e o elegeu presidente.
Sob proposta desta última, o Conselho nomeou Thierry Bolloré como diretor executivo.
A Diretoria expressa sua confiança para os dois novos líderes e deseja a eles todo sucesso em sua missão."